Repórter
Publicado em 26 de junho de 2025 às 18h31.
Última atualização em 26 de junho de 2025 às 19h34.
O Brasil perdeu 94% de sua população de jumentos nos últimos 30 anos. De acordo com dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), entre 2018 e 2024, 248 mil desses animais foram abatidos, sendo a Bahia o estado que concentra os três frigoríficos autorizados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) para essa atividade.
No entanto, se o ritmo atual de abates persistir, a espécie "deve ser extinta até 2030" no Brasil, de acordo com Pierre Barnabé Escodro, professor de medicina veterinária, inovação e empreendedorismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em entrevista à BBC.
A principal demanda vem da indústria chinesa de ejiao, um produto elaborado com colágeno extraído da pele dos jumentos, utilizado na Ásia como suplemento para melhorar a vitalidade.
A venda do colágeno extraído da pele dos jumentos gera uma movimentação anual global de cerca de US$ 6,38 bilhões. Cada pele pode ser vendida por até US$ 4 mil, o que tem levado ao abate indiscriminado e sem práticas de controle sustentável para atender a essa demanda crescente.
O impacto sobre a espécie é alarmante. O rebanho, que era de 1,37 milhão de jumentos em 1999, caiu para cerca de 78 mil em 2025, segundo dados da FAO, IBGE e Agrostat. Isso representa apenas seis jumentos para cada 100 que existiam há três décadas, colocando o Brasil em risco de levar a espécie à extinção nos próximos anos, caso medidas urgentes não sejam tomadas.
Em paralelo, tramitam dois projetos de lei visando proibir o abate de jumentos no país: o PL nº 2.387/2022, no Congresso Nacional, que já passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, e o PL nº 24.465/2022, na Assembleia Legislativa da Bahia, também aprovado na CCJ e aguardando votação em plenário.
Pesquisadores e organizações de defesa animal propõem alternativas para a preservação dos jumentos, incluindo a criação de santuários, a reintegração dos animais à agricultura familiar e seu uso em terapias assistidas.
Essas abordagens visam garantir a continuidade da espécie de forma sustentável, sem recorrer ao abate industrial, e promover o bem-estar dos animais em diversas atividades sociais e econômicas.