Ciência

Por que é tão difícil ler letras de médicos? Entenda como a caligrafia evoluiu ao longo dos anos

Caligrafia é fruto de genética, cultura e coordenação motora, dizem especialistas

Caligrafia pode ser aprimorada com treino e é uma extensão da personalidade (Freepik)

Caligrafia pode ser aprimorada com treino e é uma extensão da personalidade (Freepik)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 19 de maio de 2025 às 17h57.

Última atualização em 19 de maio de 2025 às 17h58.

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Letra de médico” virou expressão popular para descrever a escrita à mão, muitas vezes ilegível, de profissionais de saúde, mas o fenômeno vai muito além do consultório.

A caligrafia de cada pessoa é resultado de uma complexa interação entre genética, coordenação motora, influências culturais e hábitos adquiridos desde a infância. Diversos estudos sugerem, inclusive, que escrever à mão é uma das habilidades humanas mais complicadas, sobretudo porque envolvem delicadas conexões entre os olhos, músculos e o cérebro.

A escrita depende do funcionamento preciso de 27 ossos e mais de 40 músculos, sobretudo no braço e nas mãos, que são controlados por uma rede complexa de tendões. Essa anatomia explica, em parte, por que algumas pessoas têm uma caligrafia mais firme e legível, enquanto outras exibem traços mais desordenados.

Além disso, características genéticas herdadas dos pais influenciam a forma como seguramos a caneta e a inclinação do papel, elementos que moldam o formato das letras.

Cultura e aprendizagem

A forma como aprendemos a escrever começa ainda na infância, quando adultos nos ensinam a segurar lápis e caneta. A caligrafia dos cuidadores é passada para as crianças, que depois aprimoram suas habilidades na escola, influenciadas por professores e colegas.

Com o tempo, a prática diária pode diminuir, e a correria do dia a dia leva muitos a escreverem com menos cuidado, impactando a legibilidade. A revolução digital, com teclados e telas, também contribui para que escrevamos menos à mão.

Estudos da neurocientista Marieke Longcamp, da França, mostram que várias regiões do cérebro se ativam durante o ato de escrever à mão, como o córtex motor, áreas ligadas à linguagem e o cerebelo, responsável pela coordenação dos movimentos. Dois sentidos são fundamentais nessa atividade: a visão e a propriocepção, que informa o cérebro sobre a posição do corpo e o movimento dos músculos.

A relação entre caligrafia e aprendizado é surpreendente. Pesquisas com crianças e universitários indicam que a escrita manual ativa regiões cerebrais que contribuem para a memorização e compreensão do conteúdo. No ensino superior, estudantes que anotam à mão ou em tablets com caneta digital costumam ter melhor desempenho em provas do que aqueles que apenas digitam. Isso sugere que o ato físico de escrever fortalece a assimilação da informação.

Mas e os médicos?

Dado que a escrita é um processo único de cada ser humano, é compreensível que nem todas as caligrafias sejam tão bem reconhecidas. A pressa, como diz o ditado, é inimiga da perfeição — e, no caso dos profissionais de saúde, o tempo fica menos preenchido para quem passa a maior parte do tempo estudando e aprendendo.

A boa notícia é que a maior parte dos postos de saúde passaram a usar receitas eletrônicas, nas quais os medicamentos e demais recomendações são digitadas e não mais escritas à mão.

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