Ciência

Por que a chegada da Voyager 2 ao meio interestelar é tão importante?

Sonda é apenas o segundo veículo humano a chegar tão longe; região no limite do sistema solar é uma zona ainda pouco explorada

No limite: Sonda já está na última "camada" do sistema solar, mas ainda vai levar 300 anos para sair dele (NASA/Divulgação)

No limite: Sonda já está na última "camada" do sistema solar, mas ainda vai levar 300 anos para sair dele (NASA/Divulgação)

GG

Gustavo Gusmão

Publicado em 11 de dezembro de 2018 às 15h39.

Última atualização em 17 de dezembro de 2018 às 11h50.

São Paulo — A NASA anunciou nesta última segunda-feira que, 41 anos após seu lançamento, a sonda Voyager 2 finalmente atingiu o meio interestelar. A espaçonave é apenas o segundo veículo feito por seres humanos a chegar tão longe. O primeiro foi a Voyager 1, que viajou ao espaço também em 1977, mas alcançou a zona espacial ainda em 2012. Mas agora que as duas estão tão longe, quais os próximos passos para ambas as espaçonaves? Segundo a agência espacial, basicamente ir ainda mais longe — e, no caso da Voyager 2, ajudar a entender a natureza daquela região e até trazer mais informações sobre os sistemas solares vizinhos e exoplanetas.

A área pela qual as duas sondas irmãs estão viajando no momento ainda faz parte do nosso sistema solar, vale ressaltar. Como explica a própria Nasa, apesar do nome, o meio interestelar é simplesmente a zona em volta das chamadas heliosfera e heliopausa (a "bolha" criada pela radiação do Sol e a área em torno dela, respectivamente). A ilustração abaixo, de quando a Voyager 1 estava na heliopausa, mostra a sequência. O sistema solar só termina mesmo depois dessa região, na Nuvem de Oort, uma área que as espaçonaves ainda levarão cerca de 300 anos para alcançar e mais 30 mil anos para atravessar. Depois disso, serão necessários mais 10 mil anos para que a sondas fiquem mais perto de outra estrela que não seja o nosso Sol.

(NASA/Divulgação)

Definições à parte, a NASA confirmou que a Voyager 2 saiu da heliosfera e cruzou a heliopausa graças a um instrumento da sonda. O chamado Plasma Science Experiment (PLS) não detectou mais nenhum fluxo de vento solar ao redor da espaçonave depois do dia 5 de novembro. Ou seja, já faz mais de um mês, na verdade, que ela entrou no meio interestelar.

A demora na confirmação tem a ver, em parte, com a distância. Pelas contas da agência, as informações enviadas pela Voyager 2 demoram mais de 16 horas para chegar à Terra, mesmo viajando na velocidade da luz. Além disso, ainda há o fator "volume de dados" — é preciso analisar uma boa quantidade deles antes de chegar a uma conclusão.

O que há de interessante no meio interestelar?

De mais empolgante, agora que estão no meio interestelar, as sondas poderão captar melhor os raios cósmicos galácticos, como explica uma reportagem do site Space. Esses elementos "agem como pequenos mensageiros de nossa vizinhança galáctica local", disse, em uma entrevista coletiva, a astrofísica Georgia Denolfo, da NASA.

Ou seja, será possível, pela primeira vez, "conhecer" o espaço e, eventualmente, até os exoplanetas ao redor do nosso sistema solar com mais clareza, sem interferência da radiação solar da heliosfera. Mas, infelizmente, sem fotos ou nada parecido: as câmeras das sondas já deixaram de funcionar há décadas.

O diferencial da Voyager 2 para a 1 está nos instrumentos que ainda estão funcionando e na distância dela para a heliosfera. Ao contrário da pioneira, a sonda recém-chegada à região ainda tem o PLS funcionando e está bem mais da heliopausa. Isso deve ajudar os cientistas a analisar a forma como a "enxurrada" de raios cósmicos galácticos interage com a bolha de radiação solar, algo ainda pouco estudado.

Essas análises deverão ser encerradas em no máximo 10 anos, que é a estimativa otimista do tempo de vida restante das duas sondas. Ainda assim, não será nada mal para uma missão que deveria durar apenas cinco anos quando foi iniciada, em 1977.

Acompanhe tudo sobre:EspaçoEspaçonavesNasa

Mais de Ciência

Cientistas criam "espaguete" 200 vezes mais fino que um fio de cabelo humano

Cientistas conseguem reverter problemas de visão usando células-tronco pela primeira vez

Meteorito sugere que existia água em Marte há 742 milhões de anos

Como esta cientista curou o próprio câncer de mama — e por que isso não deve ser repetido