Plantas: duas espécies de ervas, Deschampsia antarctica e Colobanthus quitensis, emergem nos meses do verão austral na Antártica, considerada um laboratório natural
AFP
Publicado em 13 de dezembro de 2016 às 15h52.
Sua resistência à radiação ultravioleta e às condições climáticas extremas transformaram as plantas antárticas em excelentes ferramentas de biotecnologia para desenvolver protetores solares, antioxidantes, açúcares naturais ou melhorar cultivos mais frágeis.
Duas espécies de ervas, Deschampsia antarctica e Colobanthus quitensis, assim como musgos, samambaias e líquens, emergem nos meses do verão austral na Antártica, considerada um laboratório natural.
Se as plantas antárticas demonstraram algo, foi a sua adaptação ao meio para sobreviver a condições extremas e às mudanças climáticas. E fazem isso graças à acumulação de açúcares que as protegem e alimentam durante os duros meses de inverno sob a neve.
Durante a fotossíntese nos três ou quatro meses do verão austral, as plantas fazem provisão desses açúcares vitais, em condições ainda mais extremas, às que são submetidas pelo sol e pelas mudanças bruscas de temperatura, antes de voltar a hibernar.
Na Universidade de Santiago do Chile, um grupo de pesquisadores dirigidos por Gustavo Zúñiga analisam as propriedades destas duas plantas autóctones para sua aplicação em biotecnologia com fins comerciais na indústria farmacêutica, cosmética, alimentar e na agricultura.
"No campo aplicado, a gramínea produz antioxidantes, açúcares, frutano (um derivado da frutose), que poderiam ser utilizados em produtos dietéticos; os antioxidantes, em filtros solares ou em medicamentos que evitem o envelhecimento", explica Zúñiga à AFP.
Desse modo, a tolerância que a Deschampsia tem para resistir ao ambiente extremo "poderia se transferir a cultivos como o trigo, o arroz, o milho ou a aveia, o que poderia ser de utilidade no atual cenário que enfrentamos em todo o planeta devido às mudanças climáticas", acrescenta o decano da Faculdade de Química e Biologia.
A produção biotecnológica baseada na reprodução do tecido "nos permitiria ter produção o ano todo, enquanto que em condições normais crescem uma só vez por ano", diz o pesquisador, que lembra que em partes altas da cordilheira dos Andes é possível encontrar estas mesmas plantas.
Este laboratório natural que é o continente branco tem ainda uma margem de resistência às mudanças climáticas. "Este ano fizemos estudos para determinar a temperatura de fotossíntese na Antártica e em todas as espécies, e a melhor temperatura esteve entre 20 e 25 graus".
No laboratório da universidade, Zúñiga e sua equipe estão fazendo estas plantas crescerem em um meio sintético à base de ágar (um pó de alga), minerais, açúcares e hormônios vegetais em uma temperatura de cerca de 14 graus Celsius.
De cada uma destas plantas se pode tirar 10 que vão crescer depois, diz Zúñiga no pequeno laboratório repleto de vasos com exemplares antárticos em pleno processo de crescimento e multiplicação.
"Tratamos de caracterizar que mecanismos apresentam e que são responsáveis pela sua sobrevivência nas condições antárticas, que são extremas tanto ao longo da história como agora com as mudanças climáticas, por temperaturas e raios ultravioleta", diz o pesquisador.
A informação obtida pode ser utilizada em cereais ou outros cultivos sensíveis às mudanças climáticas.
"Para cada grau que a temperatura ambiente aumenta, a produtividade cai significativamente" neste tipo de cultivos, acrescentou.
A engenharia genética provavelmente será a grande aliada no futuro para produzir alimentos ante a sensibilidade dos cultivos às mudanças climáticas.
O sistema de produção desenvolvido pela equipe universitária, que já patenteou esta pesquisa, está pronto para passar "a nível industrial e produzir massivamente moléculas que são fortes antioxidantes".
Agora só falta que empresas especializadas nos diferentes setores de desenvolvimento potencial se interessem por este trabalho.