Enfermeira durante pandemia de coronavírus em Nova York, onde as complicaões nos rins foram relatadas (Noam Galai/Getty Images)
Lucas Agrela
Publicado em 16 de março de 2021 às 17h41.
Última atualização em 16 de março de 2021 às 18h31.
A pandemia de covid-19 tende a levar a uma redução na cobertura vacinal no mundo todo, o que pode levar a novas pandemias. Esse pode ser o caso da difteria. Pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, alertam que a difteria pode se tornar uma “grande ameaça global” devido a atrasos de vacinação contra a doença e a indícios de evolução que podem levar a doença a tornar-se mais resistente a antibióticos e até mesmo a driblar a imunidade oferecida por uma vacina no futuro.
Em 2019, pela primeira vez na história, o Brasil não atingiu a meta mínima de vacinação de nenhuma doença. Segundo dados do Programa Nacional de Imunizações, do Ministério da Saúde, a taxa de cobertura vacinal mínima varia entre 90% e 95%, dependendo da doença. Com isso, é criada a chamada imunidade coletiva, que quebra o elo de replicação de doenças infecciosas na sociedade, deixando-a restrita a pequenos grupos de pessoas que tiveram contato com um indivíduo infectado.
Os casos de difteria têm crescido nos últimos anos no mundo. Em 2018, foram 16.651 casos reportados, o que é mais do que o dobro da média registrada entre 1996 e 2017 (8.000). No novo estudo, pesquisadores estudaram amostras de 2018, nas quais encontraram indícios de evolução da bactéria da difeteria.
Os sintomas da doença são dor de garganta, febre, inchaço dos gânglios linfáticos e fraqueza. Os tratamentos para a doença abrangem o uso de antibióticos e uma antitoxina, que neutraliza a toxina da difteria.
“Não devemos tirar os olhos da bola com a difteria, caso contrário, corremos o risco de nos tornarmos uma grande ameaça global novamente, potencialmente de uma forma modificada e melhor adaptada”, disse Ankur Mutreja, que liderou o estudo sobre a doença, em nota oficial.
Gordon Dougan, do Instituto de Imunologia Terapêutica e Doenças Infecciosas de Cambridge, explica, em nota, o risco da evolução da bactéria causadora da difteria. “A vacina contra difteria é projetada para neutralizar a toxina que causa a doença, portanto, quaisquer variantes genéticas que alterem a estrutura da toxina podem ter um impacto na eficácia da vacina. Embora nossos dados não sugiram que a vacina usada atualmente será ineficaz, o fato de estarmos vendo uma diversidade cada vez maior de variantes tóxicos sugere que a vacina e os tratamentos que visam a toxina precisam ser avaliados regularmente”, diz Dougan. O estudo sobre o risco global da difteria foi publicado na revista científica Nature Communications.