Coronavírus: o aparelho consegue "aprisionar" o vírus numa câmara escura em condições ideais, de forma que esse monitoramento possa ser feito com certo grau de precisão (Andriy Onufriyenko/Getty Images for National Geographic Magazine)
Agência O Globo
Publicado em 14 de setembro de 2021 às 21h56.
Última atualização em 14 de setembro de 2021 às 22h01.
Pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) desenvolveram um equipamento, chamado CoronaTrap, capaz de monitorar a qualidade microbiológica do ar visando a coletar amostras do coronavírus para serem posteriormente analisadas. Segundo eles, esse estudo expõe padrões de comportamento do vírus que facilitam a elaboração de estratégias para diminuir a contaminação. A captura é feita a partir dos aerossóis presentes na atmosfera em diversos ambientes.
— A maioria do que você vê sobre a contaminação aérea é baseada em modelos matemáticos. Me propus a ir para a parte prática — contou o líder da equipe, Heitor Evangelista, do Laboratório de Radioecologia e Mudanças Globais (Laramg) do Departamento de Biofísica e Biometria da Uerj.
Segundo o professor, o aparelho consegue "aprisionar" o coronavírus numa câmara escura em condições ideais, de forma que esse monitoramento possa ser feito com certo grau de precisão.
— No começo, a gente perdia muitos dados, mas concluí que as condições tropicais de temperatura, umidade, radiação solar e níveis de ultravioleta acabavam degradando o vírus que a gente coletava — relatou.
O CoronaTrap se diferencia de seu antecessor, CoronaTrack, pois não depende mais de um portador individual em movimento, sendo agora capaz de monitorar uma área com maior abrangência, potencializando as coletas ambientais.
Evangelista destacou que, para que fosse possível montar o protótipo atual, foi realizada uma série de testes desde o início da pandemia, quando a equipe dirigiu sua atenção para combater a covid-19.
— Nós desviamos a atenção para o SARS-CoV-2 porque se descobriu logo no início da pandemia o potencial dele de contaminação pelo ar. Então montei uma equipe de voluntários do laboratório. A gente trabalhou nisso, testando, criando, desenvolvendo para investigar a dinâmica dele no ar.
O professor afirmou que versões anteriores do aparelho usavam métodos convencionais, e a carga viral era perdida antes mesmo de chegar ao laboratório. Mas o estudo evoluiu ao ponto de conseguir manter o vírus preso por tempo suficiente para ser analisado.
— Desenvolvemos um método pelo qual você consegue capturá-lo em condições ideais, sob refrigeração, num ambiente ausente de luz, de forma controlada. Assim, a gente consegue coletar o vírus do ar e levá-lo para o laboratório para fazer análise — explicou.
O protótipo foi criado com peças de baixo custo e deve começar a ser utilizado em escolas públicas da cidade.
— Com esse protótipo agora, eu vou agora a partir do mês de setembro começar a fazer monitoramento principalmente em escolas públicas com a volta às aulas para a gente saber como é a carga viral desses espaços. A gente sabe pouco sobre isso — disse Evangelista.
As expectativas do professor envolvem ainda, a longo prazo, uma utilização do equipamento para monitorar a qualidade microbiológica do ar visando a combater outras doenças, a exemplo da tuberculose, devido à sua capacidade de coletar outros vírus, bactérias e fungos.
— Até agora, quando a gente fala em qualidade do ar, a gente fala em qualidade física e química, mas acho que isso abre uma porta para fazer também o monitoramento microbiológico. Acho que isso é muito importante para que a gente possa gerenciar a chegada de novas cepas virais e de outras patologias.
Outros ambientes adequados para a utilização do CoronaTrap são locais fechados com muitas pessoas, como hospitais e restaurantes.
O projeto conta com financiamento da Segunda Chamada Emergencial de Projetos Para Combater os Efeitos da Covid-19, lançada pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
“Só através do monitoramento se pode fazer o combate. Para vencer um inimigo, é preciso conhecê-lo e esses sistemas são instrumentos fundamentais”, afirmou o pesquisador em comunicado divulgado pela Uerj. “É um legado interessante do nosso projeto. Temos uma tecnologia bem diferente do que se encontra no mercado, totalmente a baixo custo e desenvolvida pela Uerj”.