Coronavírus: tecido que vem sendo desenvolvido é chamado hidrofóbico (impermeável) (Getty Images/Getty Images)
Agência Brasil
Publicado em 7 de agosto de 2020 às 17h17.
Última atualização em 7 de agosto de 2020 às 19h28.
Dentro de dois meses, pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) vão apresentar um tecido antiviral para máscaras que oferece maior proteção aos profissionais da área de saúde contra a covid-19.
A informação foi dada hoje, 7, à Agência Brasil pela professora Renata Simão, dos programas de engenharia de nanotecnologia e de engenharia metalúrgica e de materiais da Coppe. O tecido está sendo produzido no laboratório de engenharia de superfícies da Coppe/UFRJ.
Renata esclareceu que, no momento, os pesquisadores estão desenvolvendo, na verdade, produtos que vão ser colocados em um tecido normal de algodão, para fazer com que esse tecido comum tenha propriedades aprimoradas e atinja, até, o nível de uma máscara similar à N95.
“O que a gente está fazendo não é desenvolver o tecido e, sim, modificar o tecido para garantir que ele tenha propriedades aprimoradas pelas modificações que fazemos nele”, explicou. As pesquisas envolvem também a inclusão de papel entre esses produtos. “A gente inclui também partículas que são antivirais, que vão matar o vírus.”
Para Renata, a grande vantagem é que, por se tratar de um algodão comum, que é biodegradável, o material que for descoberto não vai fazer mal à natureza. Além de ser descartável, ele poderá ser reutilizável e, mesmo quando for descartado, é biodegradável, ou seja, ainda assim não gera lixo.
“Esse é um ponto que, para a gente, é fundamental e muito importante.”
O tecido que vem sendo desenvolvido é chamado hidrofóbico (impermeável). O vírus, normalmente, é transportado através de gotículas, como da saliva, por exemplo, que a pessoa expele. Essas gotículas, ao entrar em contato com esse tecido que está sendo desenvolvido, não conseguem penetrar e vão escorrer. “E se, por acaso, penetrarem, tem uma camada interna que vai conter, com nanopartículas que vão matar o vírus.”
A princípio, os pesquisadores pensam em fazer uma máscara com três camadas, sendo a primeira de conforto, perto do rosto; a segundo no meio, incluindo nanopartículas; e a terceira, externa, com um recobrimento hidrofóbico, “que também é biocompatível e biodegradável”, reforçou Renata. Algumas camadas podem ser feitas também com papel modificado. “A gente pensa na externa e na do meio com papel.”
Os testes para a caracterização e constatação da eficácia das nanopartículas estão sendo realizados no Laboratório de Microscopia Eletrônica do Inmetro. Carlos Achete, especialista em Metrologia de Materiais do Inmetro e coordenador do projeto denominado Tecidos Hidrofóbicos e Ativos para Substituição do TNT Hospitalar, comentou que "caso seja comprovada a eficácia [do tecido], o país poderá ter acesso a uma tecnologia que proporcionará mais segurança e risco reduzido da contaminação, inclusive em ambiente hospitalar, onde é mais frequente. E o melhor: a um custo-benefício acessível à sociedade."
O processo de testes e sua verificação, visando a certificação do produto, são responsabilidade da coordenadora da central analítica do departamento de química do Centro Técnico Científico (CTC/PUC-Rio), professora Gisele Birman Tonietto. Gisele aposta que o importante “é atendermos às demandas da sociedade, com toda 'expertise' que a universidade tem. Em um momento de urgência, poder viabilizar um conhecimento acadêmico em prol dos profissionais de saúde só reafirma o valor que deve ser dado à ciência e à pesquisa no Brasil."
Os testes de respiração e saturação de CO2 (dióxido de carbono) têm sido feitos em parceria com laboratório da Coppe. Renata Simão informou que 15 pesquisadores das três instituições, entre professores e alunos, participam do projeto.
Ela afirmou que a partir da conclusão do tecido, prevista para daqui a dois meses, ele já estará pronto para iniciar a produção industrial. A pesquisa já tem um projeto piloto correndo em paralelo, para “tentar produzir o mais rápido possível. Mas ainda neste ano, com certeza”, manifestou. A empresa parceira para a produção já foi prospectada.
Renata disse que o custo da máscara para os profissionais da saúde pode ser reduzido com a descoberta desse tecido modificado, em comparação com uma N95 ou outra máscara existente no mercado que oferece maior proteção. “A gente acredita que vai entrar com grande competitividade.” A meta é fabricar, “no mínimo”, 500 máscaras de tecido hidrofóbico por semana para ser doadas.
Na avaliação da professora da Coppe/UFRJ, o mais importante no desenvolvimento desse tecido especial é a parceria da pesquisa no Brasil. “A gente está agregando diferentes competências de diferentes instituições e fazendo com que o produto nasça dessas diferentes competências. Eu acho que isso é a coisa mais importante, além do apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), que é indispensável.”
Acrescentou que nesse momento de pandemia e de negacionismo da ciência, as fundações de amparo à ciência do Brasil inteiro estão demandando e financiando a pesquisa, o que é extremamente positivo. Segundo Renata Simão, havia uma certa resistência, inclusive, em se trabalhar em equipe, em rede, com outras instituições. Esse projeto do tecido antiviral mostrou que isso pode ser possível. A ideia não veio de uma universidade ou instituto em especial. “Veio da união de três projetos que já aconteciam e que só puderam tornar real o produto que vai sair daqui a dois meses a partir da parceria. Se eu tentasse fazer sozinha, ia demorar dois anos.”