Ciência

Pesquisa liga uso do celular com câncer em grupo específico de usuários

Novo estudo mostra que indivíduos com variação genética, ao utilizarem smartphones com frequência, apresentam maior risco de desenvolver câncer de tireoide

Câncer de tireoide: cientistas apontam que grupo com SNPs é mais suscetível a desenvolver a doença (Getty Images/Reprodução)

Câncer de tireoide: cientistas apontam que grupo com SNPs é mais suscetível a desenvolver a doença (Getty Images/Reprodução)

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Maria Eduarda Cury

Publicado em 18 de fevereiro de 2020 às 18h59.

São Paulo - Um estudo, realizado pela Escola de Saúde Pública de Yale, encontrou pela primeira uma relação entre o câncer de glândula tireoide e o uso excessivo de telefones celulares. A pesquisa, que contou com a análise de centenas de residentes de Connecticut, nos Estados Unidos, demonstrou que pacientes com polimorfismo de nucleotídeo único (SNPs) - responsável pelas diferenças em sequências de DNA - têm mais chances de desenvolverem câncer na região do pescoço, onde fica a glândula tireoide.

Depois de examinar casos de mais de 900 pacientes, os pesquisadores relataram que as pessoas com SNPs que utilizam telefones celulares tinham risco mais de duas vezes maior de desenvolver o câncer do que os pacientes sem a variação genética. Entre os 176 genes examinados, foram identificadas 10 SNPs que, segundo os cientistas, aumentam os riscos de câncer nos usuários de smartphones.

O estudo, que foi publicado na revista Environmental Research, é o primeiro a apontar uma possível influência da genética e da utilização de dispositivos móveis com o câncer na tireoide. Yaewi Zhang, professor do Departamento de Ciências da Saúde Ambiental da Escola de Saúde Pública de Yale, disse em comentário que mais pesquisas são necessárias para confirmar a relação: "Nosso estudo fornece evidências de que a suscetibilidade genética influencia a relação entre o uso do telefone celular e o câncer de tireóide. Mais estudos são necessários para identificar populações suscetíveis à radiação por radiofreqüência (RFR) e entender a exposição à RFR por diferentes padrões de uso de telefones celulares", comentou Zhang.

O resultado de pesquisas como essa sugerem que as variações genéticas têm bastante relevância no papel de identificar subgrupos em risco. Os dados foram coletados entre 2010 e 2011 - quando os smartphones começaram a ter destaque no mercado; a equipe do estudo acredita que os responsáveis pelo aumento do risco de câncer são, portanto, os celulares das gerações anteriores. Além disso, no início, os dispositivos eram mais utilizados para ligações do que aplicativos e mensagens de texto - o que fazia com que os usuários tivessem um contato mais próximo com o aparelho.

Só nos Estados Unidos, segundo a American Cancer Society, surgiram mais de 53 mil novos casos de câncer de tireoide em 2020. Já nas pesquisas mais recentes do Instituto Nacional de Câncer, no Brasil, o tumor é o quinto mais frequente em mulheres - que são três vezes mais afetadas do que homens - nas regiões Nordeste e Sudeste. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer, o número de novos casos de câncer de tireoide em mulheres em 2019 chegou a 11.950. No homens, a doença na glândula tireoide não chega a estar entre os tipos mais comuns de câncer.

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