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Pesquisa faz diagnóstico de São Paulo no século 21

Em cinquenta anos, as atividades produtivas agregadas da região metropolitana alcançaram escala comparável à da economia do Chile


	Vista aérea da cidade de São Paulo: a obra reúne 13 capítulos, agrupados em três seções
 (REUTERS/Nacho Doce)

Vista aérea da cidade de São Paulo: a obra reúne 13 capítulos, agrupados em três seções (REUTERS/Nacho Doce)

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Da Redação

Publicado em 17 de junho de 2015 às 09h50.

A região metropolitana de São Paulo tinha 4,8 milhões de habitantes em 1960. Cinquenta anos depois, eram 19,7 milhões.

No período transcorrido entre as duas datas, a metrópole incorporou um acréscimo populacional equivalente a 1,3 vez a população da região metropolitana de Paris, 1,5 vez a do Rio de Janeiro e duas vezes a de Londres.

No mesmo intervalo, as atividades produtivas agregadas alcançaram escala comparável à da economia do Chile.

Um grupo de pesquisadores do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) – um dos 17 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP – se propôs a decifrar, na medida do possível, essa esfinge urbana.

O resultado é o livro A metrópole de São Paulo no século XXI: espaços, heterogeneidades e desigualdades, que está sendo lançado agora.

A obra reúne 13 capítulos, agrupados em três seções: I) dinâmicas econômicas, estrutura social e mercado de trabalho; II) dinâmicas demográficas e segregação residencial; III) a produção dos espaços da metrópole.

“Trata-se de um livro coletivo e não de uma coletânea de artigos. Durante o processo de elaboração, o material levantado e as análises em curso foram discutidos em seminários abertos do CEM. Investigamos as transformações ocorridas em São Paulo desde a redemocratização do país, em um período que compreende as décadas de 1990 e 2000. Os dados mais recentes são os do censo de 2010, liberados em 2012”, disse o coordenador do trabalho, Eduardo Cesar Leão Marques, professor livre-docente do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo e vice-diretor do CEM à Agência FAPESP.

“A metrópole continua sendo fortemente desigual, mas suas desigualdades se reconfiguraram. O acesso aos serviços públicos aumentou, embora os serviços oferecidos apresentem diferenças de qualidade conforme o segmento social atendido. E principalmente as periferias, que antes agrupavam quase exclusivamente populações pobres, constituíram-se em espaços mais heterogêneos em termos sociais”, disse.

O livro destaca que São Paulo tem-se tornado uma cidade mais heterogênea, em termos produtivos, sociais e espaciais. E também uma cidade menos desigual, em termos de renda, inserção no mercado de trabalho e condições de vida. Mas que os padrões de desigualdades continuam fortes e presentes.

“Certas áreas precárias pouco melhoraram e os padrões de mobilidade urbana tendem a ser estáveis e marcados por fortes desigualdades sociais. Sob o ponto de vista de seus espaços, a metrópole continua fortemente segregada em termos de raça e classe, em uma estrutura claramente hierárquica”, escreveu Marques.

O retrato resultante da pesquisa é bem mais completo e complexo do que a imagem de uma cidade clivada pela polaridade centro-periferia, que caracterizou os diagnósticos sociológicos dos anos 1970.

Se essa imagem pode ter sido precisa naquela época, ela já não dá mais conta dos processos em curso.

Na nova configuração, áreas de elite cada vez mais exclusivas e fechadas coexistem com a popularização do centro histórico e regiões intermediárias e periféricas misturadas socialmente.

Outro desmentido proporcionado pelo estudo foi que o crescimento econômico do setor de serviços, especialmente dos serviços produtivos e do comércio, não provocou um esvaziamento da indústria, ao contrário do que sugeriam certas análises dos anos 1990.

“A metrópole paulistana aparentemente experimentou uma superposição de funções econômicas, concentrando capacidades de comando sem perder completamente a produção industrial”, ponderou Marques.

O balanço das duas décadas estudadas apontou o crescimento da escolaridade em todas as classes, como resultado do maior acesso às políticas educacionais. E a forte entrada de mulheres no mercado de trabalho, especialmente nas ocupações profissionais que requerem maior escolaridade e proporcionam maior rendimento.

Também o processo de favelização não se intensificou. Ao contrário, a população favelada cresceu proporcionalmente menos do que o conjunto da população. E, como tendência predominante, as condições sociais de infraestrutura das favelas paulistanas melhoraram, especialmente na última década.

Mas esse cenário menos desigual não se expressou em termos de raça. “Embora a presença dos autodeclarados não brancos tenha aumentado em todas as classes, a sua presença relativa nas classes superiores não se alterou, sugerindo a manutenção quase intocada das desigualdades raciais. Grupos de renda mais baixa apresentam menor segregação racial do que os grupos de renda mais alta”, destacou Marques.

“As décadas de 1990 e 2000 apresentaram sinais trocados em termos de emprego e pobreza. Nos anos 1990, após um momento concentrado de melhora em 1994, com a estabilização econômica, o desemprego, a informalidade e a pobreza voltaram a crescer. Nos anos 2000, esses vetores se inverteram, com a redução do desemprego e da pobreza e o aumento da formalização dos postos de trabalho”, disse.

“O balanço geral de duas décadas indica um saldo de redução da pobreza e das desigualdades medidas pela renda, assim como a diminuição do desemprego e o crescimento dos postos formais de trabalho”, sintetizou Marques.

Mobilidade urbana

Uma herança especialmente indesejável que a São Paulo do século XXI herdou da São Paulo do século XX diz respeito à mobilidade urbana. Como revelou a pesquisa, um terço dos deslocamentos ainda é feito a pé e as modalidades rodoviárias predominam amplamente na comparação com o transporte sobre trilhos.

O ônibus é o veículo público mais utilizado, respondendo por um quarto dos deslocamentos. E também aquele que apresenta tempos de viagem substancialmente mais elevados.

Essa estrutura pública de transportes, que pouco evoluiu ao longo das duas últimas décadas, coexiste com o inchaço do transporte individual, com os automóveis e os ônibus praticamente emparelhados em número de pessoas transportadas.

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