Pele de tilápia: a salvação de casos de úlcera em córneas de cães (Oli Scarff/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 30 de junho de 2025 às 23h13.
Pesquisadores brasileiros estão desenvolvendo uma solução inovadora para o tratamento de lesões de córnea em cães, utilizando a pele de tilápia-do-nilo. A técnica foi criada por cientistas do Núcleo de Produção e Desenvolvimento de Medicamentos da Universidade Federal do Ceará (NPDM-UFC) e promete revolucionar a recuperação de animais com úlceras graves na córnea.
A técnica utiliza uma membrana rica em colágeno, uma substância essencial para a reparação celular, que serve como um curativo pós-cirúrgico. Esse biotecido acelera o processo de cicatrização, oferecendo uma alternativa mais acessível e eficiente comparada aos métodos tradicionais.
A novidade é especialmente vantajosa para cães braquicéfalos — como buldogues, pugs e shih-tzus — que possuem focinhos mais achatados e olhos maiores, tornando-os mais propensos a lesões na córnea. Segundo Mirza Melo, veterinária e líder do estudo, mais de 400 cães já foram tratados com sucesso usando esta técnica inovadora.
"A membrana atua como um suporte, protegendo a córnea e estimulando a regeneração celular nas áreas danificadas. Com o tempo, ela libera colágeno e é absorvida pelo organismo", explicou à revista Pesquisa Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Além do benefício para os animais, a produção do biotecido é bastante acessível. Enquanto outras membranas biológicas, feitas de materiais como bovino e suíno, podem ser caras, a pele de tilápia, comum no Brasil, oferece uma solução de baixo custo. A membrana foi testada em 60 cães e os resultados mostraram tempos de cicatrização mais rápidos e menores taxas de complicações em comparação com outras opções.
Agora, os pesquisadores estão expandindo os testes, e consideram a possibilidade de usar o biotecido também em cirurgias cranianas, especialmente em cães braquicéfalos, que frequentemente precisam desse tipo de intervenção.
Rodrigo Becco, doutorando da UFC, explicou à Pesquisa Fapesp que a matriz dérmica da tilápia tem características similares à dura-máter, uma das camadas que protege o cérebro, o que pode tornar a técnica útil em humanos no futuro. "A primeira análise mostrou que a matriz não causa inflamação e é bastante flexível, funcionando bem como uma barreira mecânica eficiente", afirmou.
Com esses resultados promissores, os pesquisadores agora buscam autorização do Comitê de Ética da universidade para iniciar ensaios clínicos em seres humanos. Se confirmados os resultados, a pele de tilápia poderá se tornar uma alternativa importante para a medicina.