Ciência

Pacientes estão descobrindo câncer de pele mais cedo

Pesquisa feita com 997 pacientes mostra que um terço descobriu o melanoma antes dos 44 anos, facilitando o tratamento

Melanoma: fator genético ajuda no diagnóstico precoce (Getty Images/AFP/Arquivos)

Melanoma: fator genético ajuda no diagnóstico precoce (Getty Images/AFP/Arquivos)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 16 de janeiro de 2017 às 14h06.

São Paulo - Tumor geralmente associado a anos ou até décadas de exposição solar sem proteção, o câncer de pele, principalmente o tipo mais agressivo, pode também aparecer cedo.

Estudo inédito do A.C. Camargo Cancer Center feito com 997 pacientes diagnosticados com melanoma, a forma mais grave da doença, mostra que um terço deles descobriu a doença antes dos 44 anos.

O dado se justifica, segundo especialistas, pelo fator genético envolvido no aparecimento da doença. Isso porque pessoas com genes que as predispõem a desenvolver o tumor podem ter o câncer mais jovens, mesmo tendo passado por menos episódios de exposição ao sol.

"Geralmente pessoas de pele muito clara e com muitas pintas no corpo têm essa predisposição. Elas costumam ter a doença aos 30 ou 40 anos. Mas, mesmo nos casos em que há esse fator genético, o sol é um importante desencadeador", explica João Duprat, cirurgião oncologista e diretor do Departamento de Oncologia Cutânea do A.C. Camargo Cancer Center.

A coordenadora de Marketing Priscila Silva Costanzo, de 33 anos, preenche todos esses requisitos e acabou recebendo o diagnóstico da doença quando tinha apenas 28 anos.

Ruiva, com muitas sardas e pintas pelo corpo e pele clara, ela dava pouca importância ao filtro solar na adolescência.

"Eu tinha zero preocupação, não passava protetor, queria ficar morena e achava que tomar um pouco de sol no verão sem filtro solar não ia dar problema", conta.

Essa exposição intermitente, ou seja, situações em que a pessoa aproveita só o fim de semana ou o verão para tomar muito sol sem proteção, é a mais perigosa, segundo Duprat, porque pode gerar queimaduras e aumentar o risco de câncer. "A pessoa fica a semana inteira dentro do escritório e depois quer compensar em pouco tempo."

O fator genético também mostrou-se presente no caso de Priscila. Em 2005, sete anos antes da descoberta da doença, o pai também teve melanoma.

"Foi por causa da doença dele que eu desconfiei que poderia ter. Notei uma pinta estranha no meu braço, que começou a crescer e a descascar. O médico achou que não era nada, mas pediu a biópsia e descobri que era melanoma também. Foi um choque na família porque apareceu muito cedo", diz.

Evolução

O diagnóstico de melanoma assusta porque é o tipo de câncer de pele mais propenso a provocar metástases. Quando descoberto em estágio avançado, pode se espalhar para órgãos como fígado, pulmão e linfonodos e levar à morte.

Como Priscila descobriu o tumor no início, a simples remoção cirúrgica da lesão a curou, mas há casos em que são necessários tratamentos adicionais, como quimioterapia e imunoterapia.

Embora seja um câncer agressivo, o melanoma costuma demorar algum tempo até provocar estrago. "O período varia muito, mas ele costuma evoluir em dois ou três anos, ou seja, tempo suficiente para que as pessoas notem algo estranho e procurem um médico", afirma Duprat, que ressalta a importância do diagnóstico precoce.

O estudo do A.C. Camargo mostra que os pacientes mais jovens, que provavelmente detectaram o tumor mais cedo, tiveram melhor prognóstico. Entre os pesquisados, a sobrevida em cinco anos após a descoberta do tumor variou de 84,6% a 87,2% nos pacientes com menos de 44 anos e ficou entre 67,2% e 71,6% nos pacientes com mais de 65 anos.

O estudo mostra ainda que as mulheres respondem melhor ao tratamento do que os homens. A menor sobrevida registrada entre pacientes do sexo masculino pode estar associada a questões hormonais, de acordo com especialistas.

"Há dez anos, não tínhamos um índice de cura tão alto quanto hoje. Por isso é importante a conscientização quanto à exposição solar e quanto à presença de pintas e lesões que podem apresentar indícios de malignidade", diz Duprat.

Subtipo

Tipo de câncer de pele mais agressivo, o melanoma costuma aparecer em determinadas áreas do corpo, geralmente as que ficam mais expostas ao sol. Nas mulheres, aparece mais nas pernas. Nos homens, é mais presente nas costas e no peito.

Há, porém, um subtipo de melanoma que não está associado à exposição solar e que aparece em locais pouco comuns. "Esse tipo responde por cerca de 5% a 10% dos casos de melanoma e pode aparecer em negros, brancos, orientais e em pessoas que não tenham se exposto ao sol. Nesse caso, aparecem debaixo das unhas, na palma da mão e na planta dos pés", explica João Duprat.

O médico explica que, por ser incomum, esse subtipo é confundido com outras doenças de pele, como micose, e, muitas vezes, demora a ser detectado. "Infelizmente, o diagnóstico dessas pessoas costuma ser tardio."

Nos demais casos de melanoma, os mais recorrentes, a lesão costuma se manifestar por meio de uma pinta escura, com diferentes tons, geralmente com bordas irregulares e que costuma apresentar crescimento. "Mas não é preciso pânico. Nem todas as pintas de diferentes cores são melanoma. O importante é ir ao médico."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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