Emagrecimento: remédios revolucionam o combate contra a obesidade (GettyImages)
Repórter de POP
Publicado em 13 de dezembro de 2024 às 15h12.
O ano de 2024 foi marcado na indústria farmacêutica pelo crescimento nas vendas dos medicamentos de emagrecimento, originalmente usados para o tratamento de diabetes. De 2021 para 2023, as vendas saíram de 4,5 bilhões de euros para 21,2 bilhões, segundo estudo de uma equipe de economistas da Allianz Resarch, departamento de análise da Allianz Trade. Neste ano, o aumento foi de 92%, em comparação com o ano anterior.
Ao todo, esses tipos de medicamentos corresponderam a 46% do número total de vendas em 2023 — valor que ultrapassa os remédios oncológicos, com 26%. Medicamentos voltados para a imunologia representaram 20% e as vacinas, 15%.
Usuários do Wegovy mantêm perda de peso por quatro anos, diz Novo NordiskNo começo de 2021 era mais difícil encontrar um medicamento para emagrecimento. Em 2024, por outro lado, existem mais ofertas desse tipo de produto. Com a alta nas vendas e na popularidade, fica o questionamento sobre qual é mais eficaz: o Ozempic, o Wegovy, ou o Mounjaro.
O Ozempic e o Wegovy, produzidos pela empresa dinamarquesa Novo Nordisk, são da família da semaglutida, substância que imita o hormônio GLP-1, produzido de forma natural pelo corpo humano no intestino. A substância atua diretamente no sistema nervoso central e consegue controlar a saciedade por mais tempo.
Já o Mounjauro, da norte-americana Eli Lilly, traz a substância tirzepatida, que tem na teoria o mesmo princípio de ação, mas além de imitar o GLP-1, também emula o GIP, outro hormônio também relacionado à saciedade. Embora aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso em setembro de 2023, a medicação ainda não chegou às farmácias do Brasil.
A aplicação também é a mesma para ambas as substâncias: uma caneta para injeção no abdômen, usada semanalmente.
No caso do Ozempic e do Wegovy, o preço varia de acordo com o pacote escolhido. Uma caixa com seis agulhas com 0,25mg e 0,5mg pode ser encontrada por, em média, R$ 929. Ainda que o Mounjaronão esteja disponível no país, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) já estabeleceu que ele deve ficar entre R$ 1.135,37 a R$ 4.o09,25, a depender da dosagem. Ambos os medicamento não são disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo estudo encomendado pela Eli Lilly, fabricante do Mounjaro, é a tirzepatida que traz o melhor desempenho para quem deseja perder peso rápido. De acordo com a pesquisa, a redução de gordura foi de, em média, 20% do peso corporal, contrapostos com 14% para o Wegovy, principal concorrente.
A pesquisa recrutou 751 pessoas com obesidade, que moram nos Estados Unidos e em Porto Rico, e as dividiu aleatoriamente para um tratamento de um ano e meio com o Mounjauro e o Wegovy, da mesma fabricante do Ozempic. Enquanto os pacientes da Novo Nordisk perderam em média 22 quilos no período, os do Wegovy chegaram a 15 quilos. Ou seja, a diminuição de peso relativa foi cerca de 47% maior com o Mounjaro.
A propaganda do Wegovy ou Ozempic, no entanto, não é enganosa. O medicamento promete reduzir a gordura corporal de 5% a 15%. Tampouco é do produto da Eli Lilly, que joga o potencial para acima de 20%.
A pesquisa da Eli Lilly é uma das mais recentes, mas está longe de ser a única no mercado. Em 2023, um estudo do Morgan Stanley mostrou que o consumo diário de calorias caiu de 20% a 30% entre cerca de 300 pacientes que faziam uso regular de Ozempic, resultados diferentes dos apresentados na nova pesquisa.
Junto do emagrecimento "fácil", no entanto, o uso de ambas as medicações vem acompanhado de vários efeitos colaterais. Entre os mais comuns estão náuseas e vômitos, diarreia, dor abdominal, constipação, refluxo e tontura.
É possível ter acesso aos remédios de emagrecimento via plano de saúde, mas a cobertura depende de outros fatores, como o registro na Anvisa e prescrição médica. Para tratamento de diabetes, o uso é liberado.
Ainda não é possível mensurar o impacto econômico da liberação de uso desses medicamentos aos planos de saúde do Brasil. Mas nos Estados Unidos, segundo análise do congresso divulgada pelo Finacial Times, a cobertura dessas substâncias custaria cerca de US$ 35 bilhões aos cofres públicos nos próximos nove anos.