Ciência

Os mais estranhos mitos e superstições sobre os eclipses

Diferentes culturas criaram rituais para se proteger da "catástrofe" ou para aproveitar a boa sorte que viria com o sumiço temporário do Sol

 (Nasa/Divulgação)

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Rita Azevedo

Rita Azevedo

Publicado em 25 de fevereiro de 2017 às 10h21.

São Paulo — Um eclipse solar é um evento astronômico que fascina a humanidade há milênios. Não é para menos: uma das poucas coisas absolutamente estáveis na vida humana é a previsibilidade do nascer e do pôr do sol. Se a nossa estrela, de repente, apaga, precisamos de uma explicação – e as sociedades do mundo todo criaram uma mitologia extremamente criativa para explicar essa história.

O misto de medo e de encanto causado pelos eclipses solares é tão forte que muitas dessas histórias acabaram moldando a história – e durando até hoje em algumas culturas. Conheça essas lendas:

O Sol virou jantar – com panelaço

Da mitologia nórdica às crenças tailandesas, grande parte das sociedades explica os eclipses como o Sol servindo de alimento para alguma criatura.

Para os vikings, um par de lobos ficava perseguindo o Sol e a Lua no céu. Cada vez que davam uma mordidinha, vinha um eclipse. No Vietnã, o devorador de astros era um sapo gigante. Na China, um dragão. Na Coreia, são cachorros, que só querem roubar o Sol para brincar com ele um pouquinho.

Essa ideia de um Sol engolido mostra o medo de que o astro não voltasse nunca mais. E para evitar essa tragédia, esses diferentes povos faziam panelaços dignos da época do impeachment. Gritavam e batiam seus utensílios para tentar assustar o monstro que queria acabar com o Sol.

As superstições sobre eclipses chegaram a moldar a política. Eclipses solares foram associados, da China à Inglaterra, com o destino da realeza. Eram, geralmente, um sinal de raiva dos deuses com o imperador. Por isso, para eles, era tão importante prever com cuidado quando esses fenômenos aconteceriam. Um monarca chinês teria chegado a assassinar uma série de astrólogos por não ter acertado a data de um eclipse.

Na Babilônia, eles eram mais práticos: antes do eclipse chegar, coroavam “reis substitutos”, que sentavam no trono para encarar a ira dos deuses até o Sol retornar.

Rituais modernos

Mas o que tudo isso tem a ver com os eclipses atuais? Hoje todo mundo sabe a explicação científica dos fenômenos: a órbita da Lua e a do Sol se sincronizam de forma que o satélite fica entre a Terra e a estrela. De alguns ângulos do nosso planeta, parece que a Lua está tapando o astro-rei.

Mesmo assim, a ideia de que eclipses são prenúncios de desastres ainda permanecem fortes na cultura. No México e em outras regiões da América Latina, ainda há quem peça para grávidas fecharem as portas e as janelas durante um eclipse.

Isso porque o fenômeno emitiria ‘”raios” que causam malformações no bebê, especialmente na boca. Em muitos fóruns de maternidade na internet, futuras mamães trocam crendices sobre como se proteger, “só por via das dúvidas”. Entre as simpatias, está vestir roupa íntima vermelha e não manusear objetos cortantes enquanto o eclipse acontece.

Se a crendice da gravidez parece estranha, na Índia a insegurança com eclipses é mais disseminada – e mais ampla. A tradição afirma que, se os raios do Sol não tocam a terra, os micróbios se espalham mais rápido. Por isso, é melhor jogar fora toda a comida que já está pronta no momento do eclipse, que entraria em putrefação acelerada. Achou pouco? Pois gurus recomendam jejum total, porque o funcionamento do corpo ficaria confuso com a falta da referência do Sol. Para finalizar, um banho em água corrente depois que a Lua for embora ajuda a tirar a “nhaca” do eclipse.

Um olhar mais positivo

Mas nem todas as culturas demonizam os eclipses. Segundo a pesquisadora Jarita Holbrook contou à National Geographic, uma tribo de Togo e Benin, os Batammaliba, acreditam que o eclipse é uma época de fazer as pazes.

O Sol e a Lua estariam próximos porque estariam se agredindo. O único jeito de fazê-los parar seria dar o exemplo aqui na Terra e resolver os conflitos entre as pessoas.

No Tahiti, segundo um guia de eclipses escrito por Sheridan Willians, da Associação Britânica de Astronomia, o fenômeno ganha uma cara romântica. Isso porque o eclipse seria uma sessão de amor entre o Sol e a Lua. Mais apropriado para o Carnaval, impossível.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Superinteressante

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