A dairy cow chewing grass in a field (Tony C French/Getty Images)
Maria Eduarda Cury
Publicado em 10 de junho de 2020 às 10h18.
Uma empresa americana de biotecnologia pode ter descoberto uma arma inusitada contra o novo coronavírus: anticorpos das vacas.
Segundo a SAb Biotherapeutics, os anticorpos de uma vaca modificada geneticamente podem acabar ajudando no tratamento da covid-19 --- e eles planejam iniciar os testes entre julho e setembro deste ano.
De acordo com a revista americana Science Mag, a infectologista da Johns Hopkins Amesh Adalja afirmou que essa é "uma forma promissora" para lidar com o vírus. A abordagem em questão, desenvolvida há cerca de 20 anos, faz com que os genes das vacas leiteiras sejam alterados, permitindo que algumas de suas células imunológicas carreguem o material genético responsável pelos anticorpos.
Sendo assim, os animais conseguem fabricar anticorpos para humanos em grande quantidade. Eddie Sullivan, presidente global da companhia SAb Biotherapeutics, disse em comentário que o sangue das vacas contém muitos anticorpos. "As vacas produzem boas fábricas de anticorpos, e não apenas porque têm mais sangue do que animais menores projetados para sintetizar versões humanas das proteínas. O sangue delas também pode conter o dobro de anticorpos por mililitro que o sangue humano", comentou Sullivan.
Outra possível vantagem é o fato de que as vacas produzem anticorpos policlonais, uma gama de moléculas capazes de reconhecerem várias partes do novo coronavírus - e que conseguem permanecer mesmo após a mutação do vírus.
A pesquisa informa que, para que os animais liberem os anticorpos em seu sangue, eles precisam receber uma vacina de DNA desenvolvida com base em uma parte do genoma do vírus, para preparar o sistema imunológico. Logo depois, recebem uma injeção que contém um pedaço da proteína do novo coronavírus, para atuar como uma espécie de "caminho de entrada" para as células. Segundo os pesquisadores, uma única vaca conseguiria tratar centenas de pacientes no período de um mês.
A empresa de biotecnologia espera que consigam iniciar os testes clínicos nos próximos meses, e planejam realizar os testes tanto para garantir que pessoas não sejam infectadas como para auxiliar na recuperação de indivíduos doentes.
O uso do sangue das vacas, porém, não é consenso entre os cientistas. Manish Sagar, médico do Centro Médico da Universidade de Boston, nos EUA, acredita que são necessárias mais provas para que os animais em questão possam ser utilizados para o tratamento em massa.
Os pesquisadores envolvidos apontam que o estudo do sangue destes animais começou há décadas, e seria uma opção lógica para a próxima etapa de testes de vacina.
Além dos anticorpos das vacas geneticamente modificadas, pesquisadores também estudam a eficácia de anticorpos de lhamas para combater a covid-19.
No entanto, o tempo de desenvolvimento de terapias com anticorpos não-humanos pode ser maior em razão da necessidade de mais testes clínicos. Por isso, cientistas têm se voltado a anticorpos humanos. Um exemplo é o anticorpo 47D11, que é de origem humana e também funcinou em testes feitos em laboratório.