A imagem mostra uma orca submersa em águas verdes, oferece um pedaço de fígado de raia-águia para a pesquisadora Ingrid N. Visser (Orca Research Trust/Divulgação)
Repórter
Publicado em 14 de julho de 2025 às 19h40.
É muito comum que pessoas e seus animais de estimação usem brincadeiras para estimular a interação. Entre as mais praticadas pelos pets envolve levar objetos ao dono para jogos ou presenteá-los com pequenas presas. Por outro lado, esse hábito também ocorre nos mares pelas orcas selvagens, que recorrem às presas para interagir com mergulhadores.
De acordo com uma pesquisa publicada em junho no Journal of Comparative Psychology, entre 2004 e 2024, foram registrados 34 casos de orcas (Orcinus orca) oferecendo objetos para seres humanos. A pesquisa, conduzida por Jared Towers (instituto Bay Cetology, Canadá), Ingrid N. Visser (instituto Orca Research Trust, Nova Zelândia) e Vanessa Prigollini (ONG Marine Education Association, México), registra esses episódios em diversos oceanos ao redor do mundo.
Os pesquisadores relataram que as orcas aparentemente oferecem presas ou outros itens a seres humanos em várias situações: 11 vezes com pessoas na água, 21 vezes em embarcações e o restante em áreas costeiras. Em muitos desses casos, as orcas aguardavam uma reação das pessoas antes de reagir, o que sugere que esses comportamentos podem ser mais do que simples coincidência.
Para os cientistas, esses registros são indicativos de um comportamento potencialmente altruísta, em que as orcas poderiam estar explorando as interações com os humanos. “Esse comportamento pode ser um dos primeiros relatos de um predador selvagem utilizando suas presas de forma a envolver diretamente os humanos, o que pode sugerir uma convergência evolutiva no intelecto entre golfinhos e primatas”, explicam os autores.
O estudo destaca que interações desse tipo entre animais selvagens e seres humanos são raras. Além das orcas, outros casos semelhantes incluem lobos alimentando crianças abandonadas ou focas-leopardos (Hydrurga leptonyx) oferecendo presas para mergulhadores. O compartilhamento de presas entre animais, geralmente relacionado ao parentesco, abre espaço para algumas interpretações sobre o comportamento das orcas.
Uma possível explicação é que, ao dividir presas, as orcas demonstrariam uma forma de tolerância ou até cooperação, com o objetivo de evitar conflitos ou garantir reciprocidade no futuro. No caso dos golfinhos, conhecidos por sua cooperação com outras espécies, isso também sugeriria comportamentos altruístas. As orcas, pertencentes à mesma família dos golfinhos, têm habilidades cognitivas sofisticadas e são altamente sociais.
A resposta varia. Muitos ignoram a ação, mas houve uma ocasião em que uma pessoa pegou uma ave, o airo (Uria aalge), oferecida pela orca, e depois a devolveu à água. Curiosamente, a orca recuperou o animal e o devolveu à pessoa. Outro exemplo incluiu uma ave morta (torda-miúda-do-pacífico, Synthliboramphus antiquus) sendo recolhida por pessoas, que a devolveram à água, e uma orca então a ofereceu de volta.
Os pesquisadores sugerem que a motivação pode ser uma forma de curiosidade ou até uma tentativa de interação. Orcas já foram observadas caçando cooperativamente com humanos na Austrália e, possivelmente, na Rússia, o que poderia indicar um desejo de desenvolver uma relação com nossa espécie. “Oferecer itens pode ser uma maneira de praticar comportamentos culturais ou explorar as interações com os humanos, ao mesmo tempo em que aprende com essas experiências”, afirmam os cientistas.
No entanto, há uma possibilidade mais sombria que os pesquisadores não deixam de mencionar. Em orcas em cativeiro, é sabido que elas podem usar presas mortas para atrair outras espécies e, eventualmente, matá-las. Mesmo nas orcas selvagens, há registros de matanças excessivas e interações com espécies não predatórias até a morte, o que coloca em alerta os pesquisadores sobre os riscos de buscar tais interações.