(Camille Lim/Nissan Motor Co./Bloomberg)
Lucas Agrela
Publicado em 4 de janeiro de 2018 às 13h29.
As maiores fabricantes de veículos e as empresas de tecnologia do mundo estão gastando bilhões de dólares para aperfeiçoar a capacidade de dirigir sem pensar. A Nissan Motor está seguindo uma tática diferente -- tentando “decodificar” o pensamento do condutor para tornar a direção manual mais interessante
A empresa japonesa apresentará e testará sua tecnologia “cérebro-veículo” (B2V, na sigla em inglês) na semana que vem, na Consumer Electronics Show em Las Vegas. Com o sistema B2V, o motorista usa um gorro que mede a atividade de suas ondas cerebrais e transmite os dados aos sistemas de direção, aceleração e freio, que podem começar a ser acionados antes de o motorista reagir.
O motorista vira a direção ou aperta o acelerador, mas o carro antecipa esses movimentos e começa a ação 0,2 a 0,5 segundos antes, disse Lucian Gheorghe, o pesquisador sênior de inovação da Nissan que supervisiona o projeto. A resposta antecipada deveria ser imperceptível para os motoristas, disse ele.“Nós imaginamos um futuro onde a condução manual ainda vai ser um valor da sociedade”, disse Gheorghe, 40, doutor em Tecnologia Neural Aplicada. “O prazer de dirigir é algo que nós, humanos, não deveríamos perder.”
Fabricantes de automóveis estão trabalhando para que o ato de dirigir continue sendo importante, ao passo que as recém-chegadas como a Waymo, da Alphabet, e a Apple estão procurando revolucionar a indústria com tecnologias totalmente autônomas. A IHS Markit prevê que 21 milhões de veículos autônomos serão vendidos por ano até 2035 -- cerca de um quarto do total de vendas de veículos atualmente
Muitas fabricantes, entre elas a Toyota Motor e a BMW, dizem que não darão todo o controle aos computadores e pretendem continuar fabricando carros com características bem definidas de condução
A Nissan, fabricante do veículo elétrico Leaf, com sede em Yokohama, no Japão, planeja lançar carros totalmente autônomos em 2022. Além de prever os movimentos do motorista, o gorro também poderia detectar as preferências e o desconforto do motorista quando o veículo está em modo autônomo, e os sistemas se ajustariam sozinhos.
De qualquer maneira, os motoristas dos veículos autônomos vão poder desligar o sistema e controlar o carro manualmente. É aí que entra em jogo o sistema cérebro-veículo da Nissan.
“Você sente que dirige melhor e que o carro é mais esportivo e sensível”, disse Gheorghe, que usa o sistema 15 minutos por dia no trajeto para o trabalho.
A Nissan, que gastou cerca de 490 bilhões de ienes (US$ 4,4 bilhões), 4,2 por cento da sua receita, em pesquisa e desenvolvimento no ano fiscal de 2016, tem cronogramas de lançamento de veículos autônomos mais agressivos do que a Toyota e a Honda Motor.
A Nissan planeja permitir que seus carros mudem de faixa nas rodovias de forma autônoma neste ano e andem pelas ruas e cruzamentos das cidades sem interferência humana por volta de 2020.
“Nós não estamos construindo caixas para você dormir, nem mesmo no modo de direção autônoma”, disse Gheorghe. “Nós estamos construindo um veículo que oferece experiências positivas.”