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Obras da BR-101 no Rio revelam sítios arqueológicos

Dentre as descobertas estão peças do período pré-colonial, vestígios de louças, vasilhames de cerâmica e vidro


	BR-101: Em Rio Bonito, foram encontrados até mesmo vestígios de pedras lascadas e conchas marinhas
 (Michel Teo Sin/EXAME.com)

BR-101: Em Rio Bonito, foram encontrados até mesmo vestígios de pedras lascadas e conchas marinhas (Michel Teo Sin/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 2 de setembro de 2014 às 13h31.

Rio de Janeiro - Mais de uma dezena de sítios arqueológicos e 34 pontos de ocupação histórica foram identificados ao longo da BR-101, durante as obras de duplicação da via nos municípios de Silva Jardim, Casimiro de Abreu e Rio Bonito, interior do estado do Rio de Janeiro. Dentre as descobertas estão peças do período pré-colonial, vestígios de louças, vasilhames de cerâmica e vidro.

Segundo o arqueólogo responsável pelo trabalho, Paulo Zanettini, o trabalho de salvamento começou no final de 2012 e terminou no fim do ano passado. A segunda etapa do projeto foi a construção de mapas culturais feitos com integrantes das comunidades locais, como parte de um programa de educação patrimonial que, segundo ele, é tão importante quanto resgatar artefatos e sítios arqueológicos.

“Discutimos nas escolas, prefeituras, ONGs [organizações não governamentais], coletivos e recolhemos com eles referências culturais que julgavam importantes. Criamos o mapa com essas referências. A igreja antiga, o lugar do antigo quilombo, uma estação ferroviária abandonada”, comentou ele. “Esses mapas estão sendo entregues aos municípios. É uma ferramenta de diálogo, pedagógica, que incentiva os professores, moradores, cidadãos a refletirem sobre isso e, quem sabe, teremos futuras reedições do mapa com novas referências e conquistas”.

Em Rio Bonito, próximo à BR-101, foram encontrados até mesmo vestígios de pedras lascadas e conchas marinhas, que devem ter de 2 mil a 5 mil anos, e cuja tecnologia adotada é muito similar aos sambaquis da tradição Itaipu. Esses sambaquis são depósitos de concha utilizados como moradia ou santuário por povos indígenas que habitavam o litoral brasileiro. O achado é um mistério para a história dos povos indígenas dessa tradição, que tradicionalmente viviam na costa. “Fazia parte do dia a dia deles avançarem para o interior? Houve um problema de pressão que levou esses grupos a deixar de fazer sambaquis e adentrar no interior? São questões que agora precisam ser aprofundadas”, declarou.

O levantamento de sítios arqueológico e áreas históricas e o mapeamento cultural fazem parte dos requisitos para o licenciamento ambiental de grandes obras no país. O salvamento arqueológico está sendo custeado pela Autopista Fluminense que administra a BR-101 entre Niterói e a divisa com o Espírito Santo. Para Zanettini, a obrigação legal da arqueologia preventiva em grandes obras públicos ou privadas contribui para a democratização da história do país.

“A arqueologia permite o conhecimento dessa trajetória dos brasileiros de 50 mil anos, não apenas 500 anos. E mesmo nos últimos 500 anos, a história foi escrita pelas elites e pelo poder, que relegaram outros grupos”, comentou ele. “Ao se debruçar sobre quilombos, comunidades tradicionais, grupos que não tiveram como registrar aspectos de sua própria trajetória, a arqueologia reintegra essas vozes cortadas propositalmente, narrativas esquecidas, à história do país”, explicou.

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