Stranger Things: não foi dessa vez que os seres humanos viram algo parecido com o que acontece na série da Netflix (Netflix/Divulgação)
Tamires Vitorio
Publicado em 21 de maio de 2020 às 18h43.
Última atualização em 21 de maio de 2020 às 21h33.
Na tarde de quarta-feira, 20, uma notícia sobre um possível universo paralelo ganhou espaço em jornais e nas redes sociais ao redor do mundo. Um grupo de cientistas, financiado pela Nasa, mas sem relação direta com a agência americana, encontrou uma anomalia em neutrinos tau, partículas de alta energia, mais pesadas, saindo da Terra. Uma das hipóteses levantadas pelos cientistas é que as partículas estavam se comportando como se estivessem em uma linha do tempo inversa. Para Peter Gorham, físico experimental de partículas da Universidade do Havaí, que participou da pesquisa, isso poderia ser um indício de um universo paralelo que funciona num tempo contrário do nosso. Depois da publicação, não demorou para que outros cientistas rebatessem a teoria.
Para Thiago Gonçalves, coordenador da comissão de imprensa da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) e professor de astrofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a chance de um universo paralelo existir como o descrito na pesquisa é miníma e seria uma das últimas hipóteses a ser consideradas pelos pesquisadores.
"Essa história de universo paralelo é uma explicação bastante exótica e foge do que seria esperado. De todas as teorias para explicar o resultado, essa é a menos provável de todas", afirmou. "O que os pesquisadores viram é um experimento de detecção de neutrinos, e esse tipo de neutrino a gente não esperaria que atravessasse a Terra, porque ele tem muita energia. Seria esperado que ele viesse do espaço. O que os pesquisadores observaram foi o contrário. Isso significaria que o neutrino precisaria ter atravessado a Terra, o que não está de acordo com as previsões teóricas anteriores, por isso é algo novo. Nesse sentido, é possível que exista uma física nova envolvida", afirmou.
Gonçalves e outros profissionais da área usaram a seguinte frase do cientista americano Carl Sagan para explicar o assunto: "Afirmações extraordinárias requerem evidências extraordinárias" — e não foi esse o caso. "Existem muitas outras explicações mais prováveis antes dessa [do universo paralelo]. Ainda não temos todas as evidências extraordinárias para essa comprovação", garantiu.
Sem universos paralelos por enquanto. Não foi dessa vez que os seres humanos encontraram uma realidade alternativa para viver (ou que encontraram os personagens da série da Netflix, Stranger Things, para mais uma aventura).