Diabetes: número de mulheres com a doença supera o de homens (Getty Images/Getty Images)
Victor Caputo
Publicado em 19 de novembro de 2017 às 08h00.
Última atualização em 19 de novembro de 2017 às 08h00.
A porcentagem de brasileiros com diabetes tem aumentado significativamente nos últimos anos. Ela passou de 5,5% em 2006 para 8,9% no ano passado. Os dados, da pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), mostram ainda que, atualmente, há mais mulheres acometidas pela doença do que homens.
O cenário mundial, infelizmente, é semelhante – e até por isso justifica a escolha da Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês) a escolher o impacto dessa doença no sexo feminino como tema do Dia Mundial do Diabetes de 2017.
Se 7,8% dos homens brasileiros sofrem com o diabetes, entre as mulheres esse número chega a quase 10%. Alguns fatores biológicos têm culpa no cartório – como é o caso da menopausa (entenda mais abaixo). Outros, porém, estão relacionadas a questões culturais e sociais.
Dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em março de 2017 revelam, por exemplo, que as brasileiras trabalham em média sete horas e meia a mais do que os homens por semana – devido à dupla jornada à qual são submetidas.
“Não há estudos comprovando uma relação exata entre situações como essa e o fato de as mulheres estarem desenvolvendo mais diabetes do que os homens”, esclarece Solange Travassos, endocrinologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira do Diabetes (SBD). “Mas existe o fato de a mulher ‘carregar’ a família. Isso acaba gerando estresse, o que prejudica a saúde”, arremata. Essa vida agitada demais da ala feminina também ajudaria a explicar o crescimento dos números outras complicações, como é o caso dos AVCs.
De acordo com a IDF, o diabetes já está entre as dez principais causas de morte entre mulheres do mundo inteiro. E há dois casos específicos que devem trazer ainda mais atenção a elas. Veja a seguir:
Mulheres com diabetes possuem um risco aumentado de aborto precoce ou de dar luz a um bebê com má formação. E olha que, infelizmente, muitas iniciam a gestação sem saber que carregam a enfermidade – o que aumenta a possibilidade de os perigos se concretizarem.
“O diagnóstico de diabetes tipo 2 pode chegar com até dez anos de atraso, e cerca de metade dos pacientes com a doença não sabem disso”, lamenta Solange. “Isso pode gerar problemas tanto para a mãe quanto para o bebê”, enfatiza.
Cabe ainda lembrar do chamado diabetes gestacional, uma condição em que mulheres antes saudáveis sofrem com um aumento da glicemia durante os nove meses de gravidez. Essa condição pode prejudicar a saúde – e sinaliza um risco aumentado de desenvolver o diabetes propriamente nos anos a seguir. Até por isso que toda gestante deveria se submeter a um exame para medir as taxas de glicose na circulação.
As alterações hormonais às quais o corpo da mulher é exposto nesse período favorecem a subida dos níveis de açúcar no corpo, conforme explica Solange. “Mulheres diabéticas ou com alto risco de desenvolver a doença costumam se beneficiar da reposição hormonal”, explica.
A especialista enfatiza, no entanto, que é importante avaliar a necessidade desse tipo de tratamento individualmente. Afinal, há um risco, para algumas pessoas, de trombose ou outras complicações.