Carcinoma adrenocortical: entenda a doença de Dequenne (Patricia DE MELO MOREIRA / AFP)
Redação Exame
Publicado em 17 de março de 2025 às 10h12.
A aartista belga Émilie Dequenne, consagrada aos 17 anos com o prêmio de Melhor Atriz e a Palma de Ouro no Festival de Cannes por sua atuação em "Rosetta", morreu no último domingo, 16, aos 43 anos, após uma luta contra um tipo raro de câncer, que afeta as glândulas suprarrenais.
A doença, chamada carcinoma adrenocortical, foi diagnosticada em 2023 e, desde então, a atriz enfrentava um tratamento contra essa enfermidade agressiva. Em 2024, chegou a ter remissão, mas a atriz não resistiu ao retorno do câncer.
Veja abaixo as principais características do carcinoma adrenocortical:
O carcinoma adrenocortical é um câncer raro que se origina no córtex da glândula adrenal, responsável pela produção de hormônios essenciais para o funcionamento do organismo, como cortisol, aldosterona e andrógenos. Embora seja incomum, com uma incidência de apenas 0,5 a 2 casos por milhão de pessoas a cada ano, ele pode afetar tanto crianças quanto adultos, com maior prevalência em pessoas entre 40 e 50 anos.
Esse tipo de câncer apresenta um grande desafio diagnóstico e terapêutico, devido ao seu baixo índice de ocorrência e à variedade de sintomas que podem se manifestar de forma lenta e insidiosa.
Os sintomas do carcinoma adrenocortical podem variar significativamente entre os pacientes, mas frequentemente envolvem alterações hormonais causadas pelo aumento da produção de hormônios pelas glândulas afetadas. Entre os sinais mais comuns estão o ganho de peso excessivo, retenção de líquidos, hipertensão e, em casos mais graves, o desenvolvimento de diabetes ou puberdade precoce. Em aproximadamente 60% dos casos, o tumor é “funcionante”, ou seja, ele produz hormônios em excesso, o que pode gerar condições como a síndrome de Cushing, caracterizada por um aumento nos níveis de cortisol, ou virilização, um fenômeno que pode levar a características masculinas excessivas em mulheres.
Em algumas situações, o carcinoma adrenocortical pode ser assintomático, o que dificulta ainda mais o diagnóstico precoce da doença.
O diagnóstico desse tipo raro de câncer é realizado por meio de exames de imagem, como ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética, além de análises hormonais para identificar o aumento na produção de substâncias pelas glândulas adrenais.
O tratamento mais comum para o carcinoma adrenocortical é a cirurgia, que consiste na remoção da glândula adrenal afetada. No entanto, em muitos casos, a cirurgia pode ser seguida de quimioterapia ou radioterapia para reduzir o risco de recidiva, visto que o carcinoma adrenocortical possui uma taxa elevada de metástases.
Embora as causas exatas do carcinoma adrenocortical ainda não sejam totalmente compreendidas, sabe-se que algumas síndromes genéticas podem aumentar o risco de desenvolvimento deste câncer. Entre elas, destacam-se a síndrome de Li-Fraumeni e a síndrome de Beckwith-Wiedemann, que predispõem os indivíduos a diversos tipos de tumores, incluindo o carcinoma adrenocortical.
A perda de Émilie Dequenne, uma atriz talentosa e admirada pelo público, nos lembra da luta constante contra os cânceres raros, cujos desafios diagnósticos e terapêuticos são imensos. Sua coragem em continuar sua carreira mesmo durante o tratamento é um exemplo de resistência e força.