Ciência

O que aconteceria se a Ciência ouvisse mais as mulheres?

"As mulheres não são 'homens menores'. É hora de ser consciente disso", diz Cara Tannenbaum, diretora científica do Instituto de Saúde de Mulheres e Homens

 (Fred Tanneau/AFP)

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Publicado em 18 de março de 2019 às 10h48.

Foram estudados os efeitos deste, ou daquele, medicamento em mulheres? Por que as assistentes pessoais virtuais têm sempre nomes femininos? Um grupo de pesquisadoras defende que se ponha fim a este tipo de viés no campo da pesquisa e da inovação. Por ocasião da 21ª edição do Prêmio L'Oréal-Unesco pelas Mulheres e a Ciência, entregue a cinco pesquisadoras, várias especialistas explicaram como estas desigualdades de gênero têm um impacto nos resultados de pesquisa - especialmente no âmbito da saúde.

"Homens e mulheres não apresentam os mesmos sintomas durante um ataque do coração", lembra Londa Schiebinger, professora de História das Ciências na Universidade de Stanford, da Califórnia.

Como, durante muito tempo, acreditou-se se tratar, sobretudo, de uma afecção masculina, os testes de diagnóstico foram concebidos com essa mesma leitura. Resultado: o acompanhamento é, com frequência, inadaptado para as mulheres.

O modelo: o homem branco

"Na Medicina, historicamente, o organismo do homem branco foi considerado a norma. O das mulheres era analisado 'a posteriori' e estudado, com frequência, como um desvio da norma", acrescenta essa cientista, diretora do projeto "Inovações de gênero em Ciência, Saúde e Engenharia", em Stanford.

"Nos damos conta de que, em matéria de pesquisa, tem que se trabalhar, ao mesmo tempo, sobre o homem e sobre a mulher, nos animais machos e nas fêmeas", incluindo em nível de células-tronco.

"Há uma necessidade absoluta de que os pesquisadores levem em conta o sexo e o gênero na ciência", insiste Schiebinger.

"As mulheres não são 'homens menores'. É hora de ser consciente disso, sobretudo, na hora de desenvolver um medicamento", destaca a professora Cara Tannenbaum, diretora científica do Instituto de Saúde de Mulheres e Homens (ISFH), no Canadá.

Este instituto público tem como missão estimular a pesquisa sob a influência do gênero e do sexo biológico em medicina e financiar suas possíveis aplicações no âmbito da saúde.

Estereótipos

O auge da Inteligência Artificial (IA) também suscita inúmeras questões.

"Estamos percebendo que os algoritmos podem reproduzir estereótipos sexistas e desfavorecer as mulheres no processo de seleção, inclusive na atribuição de empréstimos bancários", relata a diretora da Fundação L'Oréal Alexandra Palt.

Rachel Adams, pesquisadora da Universidade de Londres, examinou o caso dos assistentes pessoais virtuais, todos com vozes femininas como padrão.

A Apple desenvolveu Siri, um nome nórdico que significa "bela mulher que os leva à vitória", afirma.

A Amazon optou por Alexa, em alusão a Hera, a deusa grega da fertilidade e do casamento. Cortana, a assistente da Microsoft, procede de um videogame: trata-se de uma I com uma aparência muito sexy.

Essas assistentes têm uma "voz passiva, nada ameaçadora", acrescenta Rachel Adams. Estão encarregadas de "cumprir tarefas julgadas pouco importantes como marcar uma reunião".

"Isso reproduz o estereótipo da mulher a serviço do homem", completa.

À pergunta "Quer sair comigo?", uma delas responde "gostaria, mas não tenho a forma corporal". Nenhuma delas diz "não".

Outro âmbito que, segundo as pesquisadoras, deveria ser considerado é o dos robôs encarregados de auxiliar os idosos em sua vida diária, segundo Schiebinger.

Para sua concepção - defende a pesquisadora -, é importante levar em consideração as diferenças de sexo oposto, já que as necessidades não são as mesmas.

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