Ciência

Número de vacinas em fase de testes contra o coronavírus dobra em um mês

Nunca antes foi feito um esforço tão grande para a produção de uma vacina em um prazo tão curto, mas será o suficiente?

Vacina: empresas estão correndo para desenvolver uma proteção contra a covid-19 (Anton Petrus/Getty Images)

Vacina: empresas estão correndo para desenvolver uma proteção contra a covid-19 (Anton Petrus/Getty Images)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 9 de julho de 2020 às 12h54.

Última atualização em 9 de julho de 2020 às 13h20.

Em maio deste ano, existiam 99 possíveis candidatas a uma vacina contra o novo coronavírus. Há dois meses, o mundo tinha menos infectados e a corrida por uma prevenção contra o vírus já estava acelerada, mas não tanto quanto agora. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente 158 vacinas estão sendo criadas e outras 21 já estão em fases de testes clínicos --- o dobro de opções que estavam sendo testadas há um mês, em junho, quando 10 estavam em fase de testes e 123 estavam sendo desenvolvidas, de acordo com a OMS.

Um retrato promissor de um lado, mas ainda assim um pouco apressado.

Nunca antes foi feito um esforço tão grande para a produção de uma vacina em um prazo tão curto --- algumas empresas prometem que até o final do ano ou no máximo no ínicio de 2021 já serão capazes de entregá-la para os países. A vacina do Ebola, considerada uma das mais rápidas em termos de produção, demorou cinco anos para ficar pronta e foi aprovada para uso nos Estados Unidos, por exemplo, somente no ano passado.

Uma pesquisa aponta que as chances de prováveis candidatas para uma vacina dar certo é de 6 a cada 100 e a produção pode levar até 10,7 anos. Para a covid-19, as farmacêuticas e companhias em geral estão literalmente correndo atrás de uma solução rápida. 

Apenas duas das 21 vacinas em testes clínicos estão na fase 3 de testes (a mais avançada no processo de produção). São elas a chinesa Sinovac e a a da Universidade de Oxford e da farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca. Em fase dois, estão a também chinesa da CanSino Biological Inc./Instituto de Pequim de Biotecnologia e a Moderna.

Para o médico Jorge Elias Kalil Filho, diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração, em São Paulo, o fato de determinadas opções estarem na frente não significa que, de fato, elas conseguirão bons resultados no final. "Não significa que essas vacinas que estão na frente vão ganhar a partida, porque pode ser que elas não funcionem", afirma, em entrevista à EXAME por telefone.

Em fase 1/2, a Inovio Pharmaceuticals/International Vaccine Institute, a Cadila Healthcare Limited (que ainda não está recrutando voluntários para os testes); a da Sinopharm em parceria com o Instituto de Produtos Biológicos de Wuhan; a da Sinopharm em parceria com o Instituto de Produtos Biológicos de Pequim; a Novavax e a Pfizer, em parceria com a alemã BioNTech. Todas as outras candidatas, no entanto, estão em fase um de testes.

A Sinovac fechou uma parceria com o governo de São Paulo e com o Instituto Butantan para testar a sua vacina no Brasil. Em entrevista coletiva nesta segunda-feira, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), informou que o processo de testagem da CoronaVac começará em 20 de julho em São Paulo, Brasilia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná. A princípio, essa fase custará R$ 83 milhões aos cofres do governo paulista.

A potencial vacina será testada em um estudo com 9 mil voluntários brasileiros, liderado pelo Instituto Butantan. Os voluntários, que serão exclusivamente os profissionais de saúde, poderão se inscrever a partir do dia 13 de julho, por meio de um aplicativo que ainda será lançado.

A AstraZeneca e a Oxford também testarão sua vacina por aqui, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A OMS acredita que essa é a opção mais avançada no mundo em termos de testes.

Os países mais ricos estão investindo pesado para encontrar uma cura para a covid-19. Em maio, o Reino Unido investiu 79 milhões de dólares no programa de Oxford em troca de receber 30 milhões de doses. Já os Estados Unidos asseguraram 300 milhões de doses da mesma vacina ao assinar um acordo de até 1,2 bilhão de dólares com a farmacêutica britânica AstraZeneca.

A Alemanha, a Itália, a França e os Países Baixos também não ficaram para trás e assinaram um acordo com a mesma farmacêutica para receber 400 milhões de doses até o final de 2020. E em 17 de junho, a União Europeia criou uma Estratégia de Vacina Europeia para garantir o acesso à proteção para todos os integrantes do bloco econômico e 2,3 bilhões de dólares podem ter sido investidos nisso.

Segundo o relatório A Corrida pela Vida, produzido pela EXAME Research, unidade de análises de investimentos e pesquisas da EXAME, as pesquisas para o desenvolvimento de uma vacina já contam com o financiamento de pelo menos 20 bilhões de dólares no mundo. Desse valor, 10 bilhões foram liberados por um programa do Congresso dos Estados Unidos.

Para Kalil, que está tentando desenvolver uma vacina aqui no Brasil, se uma proteção for descoberta antes em países mais desenvolvidos, a tendência é que isso demore a chegar por aqui. “Digamos que eu seja a rainha da Inglaterra e a vacina for descoberta em Oxford. Quem é que eu vou imunizar? Primeiro a Inglaterra, depois o Reino Unido, depois eu vou ver meus parceiros, como os Estados Unidos, o Canadá, e depois vamos ver quem vai pagar mais, talvez a China. Por que seria o Brasil?”, pontua ele.

Quais são os tipos de vacina contra a covid-19?

Alguns tipos de vacinas têm sido testados para a luta contra o vírus. Uma delas é a de vírus inativado, que consiste em uma fabricação menos forte em termos de resposta imunológica, uma vez que nosso sistema imune responde melhor ao vírus ativo. Por isso, vacinas do tipo tem um tempo de duração um pouco menor do que o restante e, geralmente, uma pessoa que recebe essa proteção precisa de outras doses para se tornar realmente imune às doenças. É o caso da Vacina Tríplice (DPT), contra difteria, coqueluche e tétano. A vacina da Sinovac, por exemplo, segue esse padrão.

Outro tipo de vacina é a de Oxford, feita com base em adenovírus de chimpanzés (grupo de vírus que causam problemas respiratórios), e contendo espículas do novo coronavírus.

As outras vacinas em fases clínicas já avançadas também são baseadas em espículas, mas apresentadas em forma de RNA mensageiro, como as da Pfizer e da Moderna.

Mas como funcionam as fases de uma vacina?

Fase 1: é a fase inicial, quando as empresas tentam comprovar a segurança de suas vacinas em seres humanos

Fase 2: é a fase que tenta estabelecer que a vacina produz sim imunidadcontra um vírus

Fase 3: última fase do estudo, tenta demonstrar a eficácia da vacina. Para que uma vacina seja finalmente disponibilizada para a população, é necessário que essa fase seja finalizada e que a proteção receba um registo sanitário

Fase 4: a vacina é, por fim, disponibilizada para a população.

Fonte: Instituto Butantan

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