Ciência

Novo estudo sugere que coronavírus pode ser transmitido pelo ar

Nova pesquisa identificou partículas do vírus no ar de hospitais, mesmo a uma distância segura de pacientes infectados por covid-19

Covid-19: médicos estão preocupados de que a doença possa ser transmitida pelo ar (krisanapong detraphiphat/Getty Images)

Covid-19: médicos estão preocupados de que a doença possa ser transmitida pelo ar (krisanapong detraphiphat/Getty Images)

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Rodrigo Loureiro

Publicado em 12 de agosto de 2020 às 14h48.

Um estudo realizado na Universidade de Flórida, nos Estados Unidos, pode comprovar uma das principais preocupações de órgãos de saúde em relação ao novo coronavírus. Os pesquisadores apontam que a covid-19 talvez possa ser transmitida pelo ar, o que pode fazer com que uma pessoa seja infectada pelo vírus mesmo sem tocar em objetos ou precisar estar perto de pessoas contaminadas.

Os pesquisadores conseguiram isolar o vírus vivo de aerossóis (suspensão de partículas sólidas ou líquidas em um meio gasoso) coletados a uma distância de dois a quatro metros de pacientes hospitalizados com covid-19. A distância é maior do que o 1,5 metro recomendado por diretrizes médicas para evitar o contágio. Os estudos ainda precisam ser revisados.

As amostras foram coletadas de uma enfermaria do Hospital de Shands, da própria Universidade de Flórida e nenhum paciente da sala foi submetido a qualquer tipo de procedimento médico. A sequência do genoma do vírus obtida é idêntica à obtida de um cotonete usado para realizar exames em pacientes infectados com a covid-19.

“É possível cultivar o vírus no ar”, afirmou John Lednicky, principal autor da pesquisa. Ele já recebeu dezenas de ligações de pesquisadores de todo o planeta interessados em entender melhor a sua descoberta. Alguns deles apontam que mesmo que os resultados mostrem que é possível que o vírus sobreviva no ar, a infecção é improvável devido a carga viral ser menor.

Mas há também quem veja isso de outra forma. Em entrevista ao jornal americano The New York Times, Linsey Marr, especialista em vírus transmitidos pelo ar e que não está envolvida na pesquisa, explica que este estudo é uma “evidência inequívoca de que há vírus infeccioso em aerossóis”. “Se isso não é uma arma fumegante, eu não sei o que é”, escreveu Marr, em seu Twitter, na última semana.

Fazer a análise do material coletado é difícil. Mais complicado ainda é obter os aerossóis. Os pesquisadores explicam que os aerossóis são minúsculos por definição, medindo apenas cinco micrômetros de diâmetros, o que equivale a 0,005 milímetro. O processo natural de evaporação deixa as partículas ainda menores. Isso dificulta a captura das gotículas presentes no ar.

A solução encontrada então foi desenvolver um amostrador que usa vapor de água para aumentar o tamanho dos aerossóis de forma suficiente para que esses sejam coletados. O equipamento é utilizado para transferir os aerossóis de seu estado natural para um líquido rico em sais, açúcares e proteínas. Mesmo com essa transformação, o patógeno é mantido.

A descoberta causa preocupação na comunidade científica, principalmente em um momento de reabertura gradual da atividade econômica. Espaços internos com pouca ventilação, como salas de aula de escolas e universidades, podem se transformar em terrenos adequados para que o coronavírus sobreviva no ar e infecte mais pessoas.

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