Ciência

Não estamos na corrida para ser 1ª vacina contra covid-19, diz GSK

O presidente da companhia também acredita que o Brasil está pronto para receber a vacina, mas talvez não para a vacinação de todos

Vacina: testes de vacina com Sanofi acontecerão em 11 lugares nos Estados Unidos (David Talukdar/Getty Images)

Vacina: testes de vacina com Sanofi acontecerão em 11 lugares nos Estados Unidos (David Talukdar/Getty Images)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 17 de setembro de 2020 às 15h38.

Última atualização em 17 de setembro de 2020 às 15h58.

A britânica GlaxoSmithKline, em parceria com a farmacêutica francesa Sanofi, recebeu a aprovação dos Estados Unidos para iniciar as fases 1 e 2 de testes de sua vacina contra o novo coronavírus no país. Em um simpósio sobre vacinas, José Carlos Felner, presidente da GSK, afirmou que o foco da empresa não é a vacina em si, mas sim a vacinação. "Não estamos na corrida para ser a primeira vacina, estamos na corrida para sermos eficazes", explicou. O presidente da companhia também acredita que o Brasil está pronto para receber a vacina, mas talvez não para a vacinação de todos.

Segundo ele, para a distribuição das vacinas em massa, serão necessárias diversas etapas logísticas que a humanidade não viu até agora. "Temos aí a parte epideomológica, mas temos também a capacitação técnica. Não é só a capacitação dos cientistas, mas também dos enfermeiros que estão nos postos de saúde", diz Felner. "Se a vacinação contra a covid-19 tiver de ser feita de uma forma diferente das que já conhecemos, vamos ter de treinar os profissionais da área da saúde."

Felner também afirma que, no momento de pensar em uma vacina, é preciso pensar em uma forma de desenvolvê-la em todos os países para os quais ela será distribuída. Para ele, é sempre muito bom quando uma vacina que dura menos tempo é descoberta em meio a uma pandemia, mas, ainda assim, uma capaz de proteger no longo prazo ainda sim é necessária.

Os testes acontecerão em 11 lugares nos Estados Unidos com cerca de 440 pessoas. O objetivo da companhia é ter uma base de dados robusta em relação à capacidade da vacina de induzir uma resposta imune, sua segurança e tolerância nos voluntários até dezembro, quando é esperado, também, que se inicie a terceira e última fase de testes clínicos para a proteção. O objetivo da companhia francesa é que a vacina seja aprovada na primeira metade de 2021.

A vacina da Sanofi é baseada na proteína do vírus, espécie de proteção bastante utilizada e que já teve sucesso contra outras doenças, como a hepatite B, e já é uma tecnologia conhecida pela companhia francesa, que desenvolveu vacinas contra o influenza com base na mesma tecnologia.

Ambas as farmacêuticas pretendem produzir até 1 bilhão de doses da vacina no ano que vem, sendo que 100 milhões de doses já estão reservadas para os Estados Unidos (em um acordo de 2,1 bilhões de dólares) e outras 60 milhões para o Reino Unido. Apesar disso, as empresas afirmaram que estão comprometidas em produzir a proteção em uma escala global.

A corrida pela cura

Nunca antes foi feito um esforço tão grande para a produção de uma vacina em um prazo tão curto — algumas empresas prometem que até o final do ano ou no máximo no início de 2021 já serão capazes de entregá-la para os países. A vacina do Ebola, considerada uma das mais rápidas em termos de produção, demorou cinco anos para ficar pronta e foi aprovada para uso nos Estados Unidos, por exemplo, somente no ano passado.

Uma pesquisa aponta que as chances de prováveis candidatas para uma vacina dar certo é de 6 a cada 100 e a produção pode levar até 10,7 anos. Para a covid-19, as farmacêuticas e companhias em geral estão literalmente correndo atrás de uma solução rápida.

Os tipos de vacina disponíveis

Alguns tipos de vacina têm sido testados na luta contra o vírus. Uma delas é a de vírus inativado, que consiste em uma fabricação menos forte em termos de resposta imunológica, uma vez que nosso sistema imune responde melhor ao vírus ativo. Por isso, vacinas do tipo têm um tempo de duração um pouco menor do que o restante e, geralmente, uma pessoa que recebe essa proteção precisa de outras doses para se tornar realmente imune às doenças. É o caso da Vacina Tríplice (DPT), contra difteria, coqueluche e tétano. A vacina da Sinovac, por exemplo, segue esse padrão.

Outro tipo de vacina é a de Oxford, feita com base em adenovírus de chimpanzés (grupo de vírus que causam problemas respiratórios), e contendo espículas do novo coronavírus.

As outras vacinas em fases clínicas já avançadas também são baseadas em espículas, mas apresentadas em forma de RNA mensageiro, como as da Pfizer e da Moderna.

Como estão as nove potenciais?

Sinovac Biotech: a vacina chinesa que começou os testes em fase 3 no Brasil na segunda-feira, 20, pretende fabricar até 100 milhões de doses anuais. Por aqui, 9.000 profissionais da área da saúde receberão a vacina.

Sinopharm (Wuhan e Pequim): a vacina com base em vírus inativado, que se mostrou capaz de produzir resposta imune ao vírus, começou as fases 3 de testes neste mês nos Emirados Árabes Unidos. Cerca de 15.000 voluntários participaram do período de testes e a empresa chinesa acredita que a opção estará disponível para o público já no final do ano.

Oxford e AstraZeneca: os resultados preliminares das fases 1 e 2 da vacina com mais de 1.000 pessoas mostraram que ela foi capaz de induzir uma resposta imune à doença. As fases 2 (que ainda está ocorrendo no Reino Unido) e 3 de testes (acontecendo no Reino Unido, Brasil e África do Sul) devem garantir a eficácia completa dela. A opção é tida como a mais promissora pela OMS.

Moderna: a empresa americana iniciou a última fase de testes de sua vacina baseada no RNA mensageiro no dia 27 de julho. O teste vai incluir 30.000 pessoas nos Estados Unidos e o governo investiu pesado: cerca de 1 bilhão de dólares para apoiar a pesquisa. A expectativa da empresa é produzir 500 milhões de doses por ano.

Pfizer e BioNTech: a vacina agora também está na fase 3 de testes e também usa o RNA mensageiro, que tem como objetivo produzir as proteínas antivirais no corpo do indivíduo. A expectativa é testar a vacina em aproximadamente 30.000 voluntários com idades entre 18 e 85 anos no mundo. Desse total, 1.000 serão testados no Brasil. Se tudo der certo, a expectativa é que a eficácia da vacina seja comprovada até o outubro. A empresa espera produzir até 100 milhões de doses até o fim do ano. Outras 1,3 bilhão de doses podem ser fabricadas no ano que vem.

Instituto Gamaleya: em 11 de agosto a Rússia registrou a primeira vacina do mundo contra a covid-19. A vacina russa é baseada no adenovírus humano fundido com a espícula de proteína em formato de coroa que dá nome ao coronavírus e é por meio dessa espícula de proteína que o vírus se prende às células humanas e injeta seu material genético para se replicar até causar a apoptose, a morte celular, e, então, partir para a próxima vítima. Na segunda-feira, 31, o país anunciou que o primeiro lote de sua vacina, a “Sputnik V”, estará disponível já neste mês.

CanSino: a vacina chinesa usa um vírus inofensivo do resfriado conhecido como adenovírus de tipo 5 (Ad5) para transportar material genético do coronavírus para o corpo e, segundo a companhia, conseguiu induzir uma resposta imune nos indivíduos que foram testados. No começo de agosto, a China concedeu a primeira patente da vacina.

Janssen Pharmaceutical Companies: a vacina, em parceria com o gigante Johnson&Johnson, será "produzida em larga escala", segundo as empresas, e conseguiu induzir imunidade robusta em testes pré-clínicos. O plano da Janssen é produzir até 1 bilhão de doses que serão distribuídas mundialmente em 2021, após a aprovação. A tecnologia usada para a produção dela é a mesma utilizada no desenvolvimento da vacina da Ebola, que inclui o uso do vírus inativado da gripe comum, incapaz de ser replicado.

Quais são as fases de uma vacina?

Para uma vacina ou medicação ser aprovada e distribuída, ela precisa passar por três fases de testes. A fase 1 é a inicial, quando as empresas tentam comprovar a segurança de seus medicamentos em seres humanos; a segunda é a fase que tenta estabelecer que a vacina ou o remédio produz, sim, imunidade contra um vírus, já a fase 3 é a última fase do estudo e tenta demonstrar a eficácia da droga.

Uma vacina é finalmente disponibilizada para a população quando essa fase é finalizada e a proteção recebe um registro sanitário. Por fim, na fase 4, a vacina ou o remédio é disponibilizado para a população.

Com isso, as medidas de proteção, como o uso de máscaras, e o distanciamento social ainda precisam ser mantidas. A verdadeira comemoração sobre a criação de uma vacina deve ficar para o futuro, quando soubermos que a imunidade protetora realmente é desenvolvida após a aplicação de uma vacina. Até o momento, nenhuma situação do tipo aconteceu.

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