Coronavírus: análise mostrou que mutações não tornam vírus mais infeccioso (Kiyoshi Hijiki/Getty Images)
Tamires Vitorio
Publicado em 28 de novembro de 2020 às 08h00.
As mutações do novo coronavírus encontradas até o momento não necessariamente aumentam o risco de transmissão --- ao menos é o que aponta um estudo feito pelas universidades College London, Université de la Réunion e Oxford. A análise levou em conta mais de 46 mil genomas de pessoas infectadas pela covid-19 em 99 países diferentes.
Os pesquisadores encontraram 12.706 mutações do SARS-CoV-2. Desse total, 398 tiveram fortes evidências de que ocorreram repetida e independentemente --- e 185 das 398 aconteceram pelo menos três vezes de forma independente durante o curso da pandemia.
Para chegar a essa conclusão, os cientistas criaram um modelo com base na árvore evolutiva do vírus, e analisaram se as mutações estavam se tornando cada vez mais comuns.
Foi então que eles não encontraram nenhuma evidência de que mutações estão aumentando a taxa de transmissão da doença.
Em vez disso, eles descobriram que as mutações mais comuns são neutras para o vírus --- incluindo a D614G, que tem sido apontada como uma versão capaz de infectar ainda mais pessoas.
Os pesquisadores afirmam que é preciso tomar cuidado mesmo quando uma vacina for aprovada para uso.
Isso porque, com a imunização, o vírus tende a evoluir e mudar cada vez mais até ser capaz de escapar o sistema de reconhecimento do sistema imunológico humano --- o que pode levar para uma situação emergencial de vírus mutante.
Mas não há motivo para pânico, segundo eles, uma vez que o modelo computacional gerado para prever se as infecções aumentaram também pode ser usado para prever se uma futura mutação irá escapar das vacinas --- e, assim, atualizá-las conforme necessário.
Nenhuma vacina contra a covid-19 foi aprovada ainda, mas os países estão correndo para entender melhor qual será a ordem de prioridade para a população uma vez que a proteção chegar ao mercado. Um grupo de especialistas nos Estados Unidos, por exemplo, divulgou em setembro uma lista de recomendações que podem dar uma luz a como deve acontecer a campanha de vacinação.
Segundo o relatório dos especialistas americanos (ainda em rascunho), na primeira fase deverão ser vacinados profissionais de alto risco na área da saúde, socorristas, depois pessoas de todas as idades com problemas prévios de saúde e condições que as coloquem em alto risco e idosos que morem em locais lotados.
Na segunda fase, a vacinação deve ocorrer em trabalhadores essenciais com alto risco de exposição à doença, professores e demais profissionais da área de educação, pessoas com doenças prévias de risco médio, adultos mais velhos não inclusos na primeira fase, pessoas em situação de rua que passam as noites em abrigos, indivíduos em prisões e profissionais que atuam nas áreas.
A terceira fase deve ter como foco jovens, crianças e trabalhadores essenciais que não foram incluídos nas duas primeiras. É somente na quarta e última fase que toda a população será vacinada.
Segundo uma pesquisa publicada no jornal científico American Journal of Preventive Medicine uma vacina precisa ter 80% de eficácia para colocar um ponto final à pandemia. Para evitar que outras aconteçam, a prevenção precisa ser 70% eficaz.
Uma vacina com uma taxa de eficácia menor, de 60% a 80% pode, inclusive, reduzir a necessidade por outras medidas para evitar a transmissão do vírus, como o distanciamento social. Mas não é tão simples assim.
Isso porque a eficácia de uma vacina é diretamente proporcional à quantidade de pessoas que a tomam, ou seja, se 75% da população for vacinada, a proteção precisa ser 70% capaz de prevenir uma infecção para evitar futuras pandemias e 80% eficaz para acabar com o surto de uma doença.
As perspectivas mudam se apenas 60% das pessoas receberem a vacinação, e a eficácia precisa ser de 100% para conseguir acabar com uma pandemia que já estiver acontecendo — como a da covid-19.
Isso indica que a vida pode não voltar ao “normal” assim que, finalmente, uma vacina passar por todas as fases de testes clínicos e for aprovada e pode demorar até que 75% da população mundial esteja vacinada.