Macaco selvagem senta-se sobre uma rocha em Gibraltar. (Matt Cardy / Stringer/Getty Images)
Vanessa Barbosa
Publicado em 30 de outubro de 2018 às 09h17.
Última atualização em 30 de outubro de 2018 às 09h30.
São Paulo - A biodiversidade planetária está ameaçada. Populações globais de animais selvagens diminuíram em média 60% em pouco mais de 40 anos, de acordo com o relatório "Planeta Vivo 2018", da organização não governamental WWF (World Wildlife Fund).
O relatório, divulgado hoje, apresenta uma imagem preocupante dos impactos humanos prejudiciais na vida selvagem, florestas, oceanos, rios e clima. Ao mesmo tempo, chama atenção para a curta janela de tempo para ação e a necessidade urgente de adoção em larga escala de novas abordagens para a valorização, proteção e restauração da natureza.
O estudo reitera a ameaça já sublinhada no recente relatório do Painel Internacional sobre Mudança Climática (IPCC): estamos no meio de uma crise planetária causada por atividades humanas e estamos fazendo pouco para mudar a rota.
A degradação ambiental e perda de habitat devido à agropecuária e à superexploração de espécies continuam sendo as maiores ameaças à biodiversidade e ecossistemas terrestres e marinhos em todo o mundo. Segundo o estudo, apenas um quarto das terras do Planeta estão livres dos impactos das atividades humanas e esse número deverá cair para apenas um décimo até 2050.
Essas ameaças são particularmente evidentes nos trópicos, resultando em uma perda mais significativa da vida selvagem nessas áreas, principalmente nas Américas Central e do Sul, onde a redução chega a 89% desde 1970. No caso do Brasil, ainda somos a maior fronteira de desmatamento do mundo — perdemos 1,4 milhão de hectares de vegetação natural por ano.
Nos últimos 50 anos, 20% da vegetação da Amazônia já desapareceu. Especialistas indicam que se o desmatamento total alcançar 25%, esse bioma chegará ao "ponto de não retorno", podendo entrar em colapso.
O relatório aponta também a região do Cerrado como uma das maiores frentes de desmatamento no mundo. Além das perdas para a biodiversidade, o desmatamento no bioma põe em risco a segurança hídrica do país, uma vez que as águas que nascem no Cerrado alimentam seis das oito grandes bacias hidrográficas brasileiras e alguns dos maiores reservatórios de água subterrânea do mundo.
Outra ameaça crescente é a mudança climática, que afeta ecossistemas e espécies, e que pode dobrar a curva da perda de biodiversidade até o final do século. A mudança de uso do solo, principalmente o desmatamento, é o maior fator de emissão de gases de efeito estufa do Brasil, contribuindo assim para o aquecimento global. Entre 1990 e 2013, a mudança de uso do solo foi responsável por 62,1% do total de emissões do país, segundo o Sistema de Estimativa de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG).
Se até hoje, a perda de 60% da vida selvagem no mundo não conseguiu estimular governos, empresas e indivíduos a mudar o business as usual, significa que está tudo perdido? Calma. Embora o cenário apresentado no relatório mostre uma realidade aterradora, existe esperança, diz a WWF.
A natureza possui capacidade de regeneração, mas para reverter a situação atual será preciso muito trabalho e mudanças significativas na forma como nos relacionamos com o meio ambiente. Governos em todos os níveis, empresas, indústrias e o público devem unir forças imediatamente para cumprir os compromissos básicos do Brasil em relação à biodiversidade, áreas protegidas e mudanças climáticas.
Não fazer isso resultará em contínuas perdas de vida selvagem, com muitas espécies caminhando para a extinção. O estudo lembra que em 2020, os líderes mundiais deverão medir o progresso alcançado na Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e no Acordo de Paris, e que ainda há tempo para a comunidade global proteger e restaurar a natureza.
O Relatório sugere um roteiro (de metas, indicadores e métricas) que os 196 Estados membros da CDB poderiam considerar para entregar um acordo global urgente, ambicioso e eficaz para a natureza (como o mundo fez pelo clima em Paris), quando se reunir na 14ª Conferência das Partes da CDB no Egito, em novembro deste ano.
Publicado a cada dois anos, o estudo da WWF utiliza base de dados de 19 organizações internacionais e envolve mais de 50 pesquisadores, que avaliam indicadores como o Living Planet Index, fornecido pela Zoological Society of London, o Species Habitat Index, o Índice da Lista Vermelha da IUCN e Índice de Intensidade da Biodiversidade, bem como os limites planetários e a pegada ecológica.