Ciência

Mudança do clima ameaça vidas nas áreas mais biodiversas da Terra

Alta da temperatura global coloca em risco metade das espécies de plantas e animais de importantes regiões naturais do mundo

Elefantes africanos:  (Martin Harvey/ WWF/Divulgação)

Elefantes africanos: (Martin Harvey/ WWF/Divulgação)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 14 de março de 2018 às 16h36.

Última atualização em 14 de março de 2018 às 16h39.

São Paulo - As regiões mais ricas em biodiversidade do mundo, como a Amazônia e Galápagos, podem perder mais de 50% de suas espécies animais e mais de 60% das espécies de plantas nas próximas oito décadas, se os países não se comprometerem seriamente a reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa.

A projeção preocupante consta em um estudo histórico publicado hoje na revista científica Climate Change e realizado pelas universidades de East Anglia (Reino Unido), James Cook (Austrália) e pelo grupo ambientalista WWF.

O relatório "A Vida Selvagem em um Mundo Cada Vez mais Quente" analisou o impacto das mudanças climáticas sobre quase 80 mil espécies de plantas e animais de 35 áreas consideradas prioritárias para a conservação no mundo.

Foram considerados três diferentes níveis de aquecimento: menos de 2 graus Celsius (o limite máximo previsto no acordo de Paris de 2015), 3.2 ºC (o aumento provável dado os compromissos nacionais existentes) e 4.5ºC (o resultado previsto se as tendências das emissões permanecerem inalterados).

Segundo o relatório, as chamadas florestas do Miombo, que abrigam os cachorros selvagens africanos, o sudoeste da Austrália e as florestas amazônicas das Guianas são as áreas mais ameaçadas.

Cachorros-selvagens africanos.

Cachorros-selvagens africanos. (Martin Harvey / WFF/Divulgação)

Se houver um aumento médio global da temperatura de 4,5°C, os climas nessas áreas deverão se tornar inadequados para muitas plantas e animais que atualmente vivem nelas. Os resultados pintam um quadro apocalíptico.

Até 90% dos anfíbios, 86% das aves e 80% dos mamíferos poderiam ser extintos localmente nas florestas de Miombo, na África do Sul. A Amazônia pode perder 69% das suas espécies de plantas. No sudoeste da Austrália, 89% dos anfíbios podem se tornar extintos. Em Madagascar, mais de 60% de todas as espécies correm risco de extinção.

Além disso, o aumento das temperaturas médias e a menor precipitação podem se tornar o "novo normal" de acordo com o relatório, com chuvas significativamente menores no Mediterrâneo, Madagascar e no Cerrado-Pantanal.

Orquídea, Brasil. (Juan Pratiginestos/WWF)

Os efeitos potenciais dessa nova "normalidade" climática podem mudar as condições ambientais para muitos espécies, aumentando por exemplo a pressão sobre o abastecimento de água dos elefantes africanos (que precisam beber de 150 a 300 litros de água por dia), e colocando mais de 90% das áreas de reprodução dos tigres de Sundarbans, um mangue arbóreo formado no delta dos rios Ganges, Bramaputra e Meghna na Baía de Bengala, sob risco de submergirem frente à alta do nível do mar.

Segundo os pesquisadores, os compromissos do Acordo de Paris, feitos por países, reduzem o nível esperado de aquecimento global de 4,5 °C para cerca de 3°C, o que também reduz os impactos sobre a fauna e a flora mundial. Porém, limitar o aquecimento a 2 ºC  reserva melhores chances de adaptação aos animais e plantas, e mais ainda se o mundo se empenhar para limitar o aquecimento a 1,5 °C.

O estudo pondera que se as espécies conseguirem migrar para regiões mais propícias, o risco de extinção local diminui, porém a maioria das plantas, anfíbios e répteis, como orquídeas, sapos e lagartos não conseguem se dispersar no ritmo necessário para acompanhar as mudanças em curso. Ou seja, a melhor maneira de proteger contra a perda de espécies é unir esforços para limita o aumento da temperatura global ao nível mais baixo possível.

Acompanhe tudo sobre:AnimaisMeio ambienteBiodiversidadeFlorestasMudanças climáticas

Mais de Ciência

Cabe um docinho? Estudo explica por que sempre sobra espaço para sobremesas ao final das refeições

SpaceX adia lançamento do Starship após problemas técnicos

Como identificar mentirosos? Cientista revela técnica 'infalível' para desmascarar os inimigos

Após 600 anos, peste negra voltou? O que se sabe sobre caso registrado da doença e possíveis riscos