Ciência

Mudança climática vai tirar o sono de muita gente

Esta é a conclusão de cientistas que estudam como o calor perturba o sono — e como o aquecimento projetado deverá tornar o sono ruim ainda pior

Mudanças climáticas: à medida que o planeta se torna mais quente, as temperaturas do ar noturno sobem a um ritmo mais acelerado (foto/Thinkstock)

Mudanças climáticas: à medida que o planeta se torna mais quente, as temperaturas do ar noturno sobem a um ritmo mais acelerado (foto/Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 29 de maio de 2017 às 15h54.

Nova York - A mudança climática vai atacar durante a noite.

Esta é a conclusão de cientistas que estudam como o calor perturba o sono — e como o aquecimento projetado deverá tornar o sono ruim ainda pior.

Conduzida por Nick Obradovich, do Centro Belfer de Ciência e Assuntos Internacionais, da Universidade de Harvard, uma equipe de pesquisadores é a primeira a documentar a relação entre a elevação da temperatura e o sono precário.

Eles analisaram as respostas de 765.000 cidadãos dos EUA em pesquisas dos Centros para o Controle de Doenças realizadas 2002 e 2011.

Comparando as respostas sobre o sono com as temperaturas locais dos participantes, além de encontrar uma correlação entre a temperatura e o sono, os pesquisadores descobriram que ela é três vezes mais forte no verão.

O novo estudo vincula essa experiência individual — pegar no sono — a um fenômeno planetário — o aquecimento global.

Assim como um corpus de pesquisa cada vez maior, ele sugere que o aumento das temperaturas mudará gradativamente até os aspectos mais mundanos da vida cotidiana.

A fisiologia da temperatura e do sono é conhecida há algum tempo. À medida que o corpo entra no estado de inconsciência, os vasos sanguíneos da pele se dilatam, o que permite que o calor escape e reduz a temperatura interna do corpo.

Pesquisas anteriores mostraram que uma temperatura ambiente acima do normal “pode impedir que o corpo desprenda calor, e o sono precário é associado à alta temperatura interna do corpo”, escreveram os autores.

À medida que o planeta se torna mais quente, as temperaturas do ar noturno sobem a um ritmo mais acelerado que as do ar diurno.

Esse fato aparentemente ilógico vem sendo documentado há anos por cientistas que estudam o clima global e é uma peça importante do quebra-cabeça que não pode ser ignorada em um momento em que os EUA (ao contrário da maioria do planeta) têm dificuldades para aceitar que a mudança climática é uma realidade provocada pelos seres humanos.

Se o sol fosse responsável pelo aquecimento, as temperaturas diurnas subiriam mais.

Após estabelecer um vínculo entre sono e temperatura, os pesquisadores utilizaram projeções do aquecimento global para ver como os problemas de sono dos americanos poderiam piorar na segunda metade do século.

O mais surpreendente para Obradovich foi que os pesquisadores conseguiram observar um forte efeito do calor sobre o sono.

Os EUA são um país rico, e muita gente pode contar com um aparelho de ar-condicionado durante as ondas de calor. “Mesmo com essa capacidade de adaptação imediata, observamos efeitos nos EUA”, disse ele.

Quando se fala do sofrimento provocado pelas temperaturas mais quentes, no entanto, os idosos e os pobres são os mais afetados.

Solomon Hsiang, que estuda os efeitos da mudança climática no comportamento humano e na economia na Universidade da Califórnia em Berkeley, considera que o novo estudo é o primeiro a analisar metodicamente a temperatura, o clima e o sono.

Os resultados, disse ele, “indicam efeitos sistemáticos e importantes”.

Entre eles, o aumento das consequências negativas de estar cansado o tempo todo. “As pessoas cometem erros cognitivos importantes quando dormem mal, seja bater o carro ou tomar decisões ruins no trabalho”, disse Hsiang.

“Os estudantes não aprendem direito se não dormirem, e a privação de sono constante prejudica a saúde das pessoas. O sono é tão fundamental para todos os aspectos da vida que uma alteração do clima durante muitos dias por mês é um custo real e importante que precisa ser levado a sério agora.”

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