Aquecimento global: grandes temperaturas podem aumentar o risco de doenças causadas por fungos (A doubt/Wikimedia Commons)
Maria Eduarda Cury
Publicado em 27 de julho de 2019 às 08h59.
Última atualização em 27 de julho de 2019 às 08h59.
São Paulo - Doenças causadas por fungos são comuns em certos animais e vegetais, sendo capazes de acabar com uma plantação ou gerar problemas na pele. No entanto, nem todos os seres são afetados - alguns mamíferos, como os humanos, não são afetados por conta de suas altas temperaturas corporais, que impedem a reprodução da maioria dos fungos, atuando como uma espécie de sistema imunológico.
Com o aquecimento global e a mudança climática do planeta Terra, porém, isso pode estar mudando. Em 2010, um fungo chamado Candida auris foi descoberto pela médica Johanna Rhodes, professora da instituição Imperial College London, ao ser chamada para atender um paciente que estava com uma infecção aparentemente resistente a remédios e contagiosa. A partir de 2012, o fungo se espalhou pela África, Ásia e América do Sul e se disseminou rapidamente.
A população começou a suspeitar que viajantes estavam infectando outros viajantes e fazendo, portanto, com que a doença aparecesse em vários continentes. Arturo Casadevall, da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg diz em nota que o fungo apresenta variações genéticas dependendo do local, o que impede que a causa tenha sido transmissão por contato. De acordo com Casadevall, a Candida auris se acostumou com a mudança de temperatura causada pelo aquecimento global, e se tornou tolerante ao organismo humano e sua temperatura.
Começaram a surgir, em 2016, diversos relatos de infecções por C. auris nos Estados Unidos - foram quase 700 casos em 12 estados, ocasionando diversas mortes e surtos nos estabelecimentos de saúde. Logo após a epidemia, outros países também passaram a relatar casos de infecção. Quando um ser humano adquire a doença, ele tem a sua corrente sanguínea infectada, assim como o cérebro, o coração e outras partes do corpo. Depois da contaminação, a chance de fatalidade é de 30 até 60%.
Para que o indivíduo seja infectado, basta um contato invasivo com o C. auris (como em cirurgias) ou possuir o sistema imunológico enfraquecido - caso aconteça da segunda forma, é mais provável que o fungo permaneça apenas na parte externa do corpo e não cause danos extremos ao paciente.
Ainda segundo Casadevall, o C. auris se tornou um problema de saúde por conseguir se reproduzir dentro do organismo humano. Estudos anteriores mostraram que um fungo é capaz de crescer quando em temperaturas mais altas do que o comum, rompendo as defesas térmicas dos pacientes. A mudança climática, se não controlada, pode piorar a situação ou até fazer com que outro fungo passe a se replicar e se torne perigoso para a saúde humana.