Sumiço das abelhas: falta de chuvas e uso de pesticidas podem estar contribuindo para fenômeno (Tatyana Makeyeva/Reuters)
EFE
Publicado em 21 de agosto de 2018 às 12h03.
Última atualização em 21 de agosto de 2018 às 12h08.
Cidade do México - A população de abelhas continua diminuindo no mundo e, apesar de não haver consenso sobre as causas do problema, aumentou o número de apicultores no México que culpam a mudança climática.
Produtor de soja transgênica e também apicultor na cidade de San Luciano, no estado de Campeche, Fábian Papalotzi é um dos que passou a acreditar que o aquecimento global é o principal fator de morte das abelhas. E ele não está sozinho.
Jazzer Neftali, criador de Ich Ek, no mesmo estado, revelou em entrevista à Agência Efe como a seca registrada na região nos últimos dois anos afetou a produção de mel, só restabelecida neste ano. A falta de chuvas no período citado fez com que ele reduzisse o número de colmeias em sua propriedade de 400 para 200.
"Nesses dois últimos anos, a seca foi muito forte e nos afetou. As pessoas pensam que é culpa da soja transgênica, mas não, é o fator climático", analisou Neftali, no ramo há 30 anos.
Apesar disso, o produtor afirmou não ter medo de que a população mundial de abelhas vá acabar ou diminuir drasticamente.
Outro vilão apontado por organizações de proteção ambiental e partidos políticos é o uso de pesticidas como o glifosato e os neonicotinoides, mas especialistas consultados pela Agência Efe negam que as substâncias tenham efeito na morte das abelhas.
Mesmo assim, Papalotzi toma cuidados extras, se aproveitando do fato de ser apicultor e agricultor. As colmeias são tapadas no momento em que algum produto está sendo aplicado na plantação para impedir que as abelhas saiam e sejam contaminadas.
"Atualmente não há nenhum cultivo que não requeira a aplicação de pesticidas ou inseticidas. Todos os agricultores sabem que, por mais nobre que seja o produto químico, em menor ou maior escala, sempre há um dano às abelhas", reconheceu o produtor.
Como Neftali, Papalotzi também defende o uso de transgênicos, que, segundo ele, tirou sua região da pobreza. Para ele, a apicultura tem que aprender a conviver com essa nova realidade.
"Os custos da produção convencional são muito mais elevados do que os da soja transgênica", explicou.
O diretor-geral do Serviço Nacional de Saúde, Inocuidade e Qualidade Alimentar, Aquícola e Pesqueira (Senasica), Hugo Fragoso, garantiu à Efe que os produtos químicos usados nas lavouras não são responsáveis pelas mortes das abelhas.
Para defender a posição, Fragoso citou um estudo realizado pela Senasica em parceria com a Secretaria de Agricultura, Pecuária, Desenvolvimento Rural, Pesca e Alimentação (Sagarpa) e com a Universidade Nacional Autônoma do México (Unam). Os resultados, no entanto, serão divulgados apenas em outubro deste ano.
Segundo ele, a pesquisa, realizada em duas fases - uma em 2015 e outra em 2017 -, encontrou concentrações muito baixas de pesticidas no mel das abelhas. Não houve registro de traços de glifosato.
Em relação aos neonicotinoides, Fragoso afirmou que em apenas uma colmeia os pesquisadores encontraram a presença da substância.
Apesar de não afetar diretamente as abelhas, o uso de pesticidas prejudica o ambiente em que elas vivem, explicou um dos coordenadores do estudo realizado pela Unam, Ricardo Angiano.
"Eles provocam a perda das flores nativas. Os herbicidas serão usados para eliminar tudo o que você não quer que seja cultivado. O que acontece? As abelhas se alimentam das flores das plantas que nascem ao redor da plantação. Quando os campos estão limpos, elas não têm mais o que comer", explicou o pesquisador.