Ciência

Monte Everest cresce devido à erosão de rios, dizem pesquisadores

Processo de erosão causado por rios vizinhos fez com que o Everest ganhasse até 50 metros de altura nos últimos 89 mil anos.

Everest pode ter crescido de 15 a 50 metros nos últimos 89 mil anos. (Divulgação/Divulgação)

Everest pode ter crescido de 15 a 50 metros nos últimos 89 mil anos. (Divulgação/Divulgação)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 1 de outubro de 2024 às 14h40.

O Monte Everest, a montanha mais alta do mundo, tem passado por um fenômeno geológico que resultou em um crescimento inesperado ao longo dos últimos milênios. Pesquisadores revelam que a montanha, que atualmente possui uma altura oficial de 8.849 metros, pode ter se elevado entre 15 e 50 metros nos últimos 89 mil anos devido à erosão provocada por rios vizinhos.

O estudo sugere que esse fenômeno não está diretamente relacionado apenas ao movimento tectônico das placas que formam o Himalaia, mas sim ao impacto de processos erosivo, de acordo com informações do The Guardian.

O Himalaia começou a se formar há cerca de 50 milhões de anos, quando o subcontinente indiano colidiu com a placa tectônica eurasiática, um processo que continua até hoje. Esse encontro de placas resulta na elevação contínua das montanhas, incluindo o Everest.

No entanto, o novo estudo liderado pelo professor Jingen Dai, da Universidade de Geociências da China, em Pequim, destaca que esse processo de elevação tem sido acelerado por outro fator: a erosão causada por rios que circundam a montanha.

A pesquisa, publicada na revista Nature Geoscience, aponta que o fenômeno de captura de rios — quando um curso d'água altera sua trajetória e passa a escoar de forma diferente — tem sido fundamental para a elevação do Everest. Segundo o estudo, há aproximadamente 89 mil anos, o rio Arun, localizado ao norte do Everest, teve sua trajetória desviada e passou a escoar para o sistema fluvial do rio Kosi. Esse desvio aumentou a quantidade de água fluindo pelo Arun, o que intensificou a erosão na base da montanha.

Erosão e elevação do Everest

Com o aumento da erosão, grandes quantidades de sedimentos foram removidas, diminuindo o peso sobre a crosta terrestre na região ao redor do Everest. Esse alívio de pressão permitiu que o solo na área experimentasse um fenômeno conhecido como "recuo isostático", onde o terreno eleva-se em resposta à redução de peso. O efeito foi suficiente para impulsionar o Everest e seus picos vizinhos, como Lhotse e Makalu, em uma taxa de 0,16 mm a 0,53 mm por ano.

Os pesquisadores explicam que esse processo de elevação deve continuar até que o sistema fluvial atinja um novo estado de equilíbrio, o que significa que o Everest ainda pode crescer ligeiramente nos próximos milhares de anos. No entanto, esse fenômeno geológico não será permanente, e a montanha deverá estabilizar sua altura em algum momento.

A importância do fenômeno de captura de rios

O fenômeno de captura de rios é relativamente raro, mas não desconhecido na geologia. O que torna este estudo notável é a demonstração do impacto significativo que a captura de rios pode ter sobre a elevação de uma montanha tão icônica quanto o Everest. No caso da montanha mais alta do mundo, essa elevação foi equivalente a alguns metros ao longo de dezenas de milhares de anos, um fenômeno rápido em termos geológicos.

Além disso, os cientistas acreditam que essa descoberta pode ter implicações para outras regiões montanhosas ativas no mundo. A erosão causada por rios capturados pode ter desempenhado um papel em outras cadeias de montanhas ao redor do globo, especialmente em regiões tectonicamente ativas como os Andes e as Montanhas Rochosas. A pesquisa sugere que a interação entre processos fluviais e tectônicos pode ser um fator crucial na modelagem das paisagens montanhosas.

Embora a erosão dos rios tenha sido um fator determinante para o crescimento do Everest, os cientistas também apontam outras influências na elevação das montanhas do Himalaia. A perda de geleiras na região, em decorrência das mudanças climáticas, também pode estar contribuindo para a elevação do solo. À medida que as geleiras derretem e perdem massa, a pressão sobre a crosta terrestre diminui, levando a uma elevação adicional. No entanto, essa influência é menos significativa em comparação com o impacto da erosão fluvial.

Além disso, os ciclos de terremotos na região podem estar contribuindo para a elevação do Himalaia. A atividade sísmica resulta no acúmulo de tensões tectônicas, que, eventualmente, são liberadas em grandes terremotos. Esses eventos podem causar elevações abruptas ou mudanças no relevo das montanhas.

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