Ciência

Microagulhas podem melhorar anestesia usada por dentistas

Dispositivo contém 57 microagulhas que criam pequenos furos pelos quais substâncias anestésicas penetram

Dentista atende paciente  (Getty Images/Getty Images)

Dentista atende paciente (Getty Images/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 25 de setembro de 2017 às 09h22.

Pesquisadores do Brasil e do Texas começaram a testar em humanos uma nova estratégia para aumentar a eficácia da anestesia tópica odontológica.

Trata-se de um pequeno dispositivo contendo 57 microagulhas que, ao ser colocado na gengiva, na bochecha ou em qualquer outro local da boca a ser anestesiado, cria pequenos furos pelos quais substâncias anestésicas como a lidocaína penetram – alcançando regiões um pouco mais profundas da mucosa oral.

O tema foi destaque na manhã de quinta-feira (21/9) durante o simpósio FAPESP Week Nebraska-Texas, nos Estados Unidos.

Como explicou Harvinder Gill, professor do Departamento de Engenharia Química da Texas Tech University (UTT), em Lubbock, a anestesia tópica é usada pelos dentistas para diminuir o desconforto de seus pacientes durante a aplicação da anestesia injetável, necessária para procedimentos mais invasivos como o tratamento de cáries, extração de dentes ou cirurgias.

“Uma injeção muito profunda é necessária para adormecer a área a ser tratada ou para bloquear um nervo. E essa injeção costuma ser dolorosa, pois os métodos convencionais de anestesia tópica têm pouca penetração e eficácia”, disse Gill.

Na avaliação do pesquisador, o medo da injeção é um dos principais fatores que levam os pacientes a desenvolver fobia de dentista e a evitar tratamentos odontológicos, o que impacta negativamente a saúde oral da população.

“Essa situação causa ansiedade tanto nos pacientes como nos dentistas, podendo comprometer os resultados do tratamento”, afirmou.

No âmbito de um projeto financiado pela FAPESP e realizado em parceria entre Gill e a pesquisadora Michelle Leite, da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), está sendo avaliada a viabilidade dessa nova estratégia para liberação de fármacos para a mucosa oral.

“Entre nossos objetivos estão mensurar a dor causada pelas microagulhas, que têm cerca de 700 micrômetros de comprimento cada, e determinar a eficácia desse sistema para aumentar a ação da anestesia tópica”, disse Gill.

O método já foi testado em 10 pacientes em um ensaio preliminar e, segundo Gill, foi bem tolerado.

Semeando parcerias internacionais

A parceria entre Gill e Leite foi firmada no âmbito do FAPESP São Paulo Researchers in International Collaboration (SPRINT), uma estratégia de organização que consiste no anúncio simultâneo de oportunidades de colaboração da FAPESP com diversos parceiros no exterior e que oferece financiamento para a fase inicial de colaborações internacionais em pesquisa (seed funding) visando estabelecer projetos conjuntos de médio e longo prazo.

Outros trabalhos aprovados no âmbito do SPRINT foram apresentados na manhã de quinta-feira, durante o simpósio realizado em Lubbock, Texas, entre eles o estudo coordenado por Sonia Marli Zingaretti, da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), e Kameswara Rao Kottapalli, do Centro de Biotecnologia e Genômica da UTT. O objetivo da dupla é identificar variáveis genéticas que tornam certos cultivares de cana-de-açúcar mais resistentes ao estresse causado pela presença de alumínio no solo.

“As plantações de cana estão se disseminando pelo Brasil, inclusive pelo Cerrado, onde o solo tem bastante alumínio. Essas moléculas são tóxicas para a planta, pois interferem no desenvolvimento das raízes e reduzem a produtividade”, explicou Zingaretti.

O grupo selecionou cultivares considerados mais e menos resistentes a esse tipo de estresse e sequenciou nessas plantas todas as moléculas de RNA e de microRNA que estavam sendo expressas.

Agora, os pesquisadores realizam análises para identificar quais genes são determinantes para proteger a planta ou torná-la suscetível.

Outro projeto colaborativo apresentado no evento tem como foco estudar o impacto, na saúde reprodutiva de peixes, causado pela interação entre desreguladores endócrinos (substâncias capazes de interferir na ação de diversos hormônios importantes para o organismo) e aquecimento global.

O trabalho é coordenado por Ricardo Hattori, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), e Reynaldo Patiño, do Departamento de Manejo de Recursos Naturais da UTT.

“Já se sabe que alterações na temperatura da água podem causar reversão no sexo de peixes. O aquecimento, por exemplo, pode induzir a conversão de um animal de sexo genético feminino para o sexo masculino. Por outro lado, diversos sistemas aquáticos já estão repletos de contaminantes com ações similares às de hormônios sexuais, que também podem influenciar na determinação do sexo de peixes”, contou Hattori.

Segundo o cientista da APTA, ainda não se sabe ao certo o que a combinação desses dois fatores (disruptores endócrinos e aquecimento global) podem causar nos animais.

É possível que um potencialize a ação do outro, como também pode ocorrer inibição e é isso que o projeto tenta compreender.

Os insetos sociais pertencentes à família dos membracídeos, que apresentam formas bastante inusitadas, são o tema do projeto coordenado por Monica Tallarico Pupo, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), da Universidade de São Paulo (USP), e por Amanda Brown, do Departamento de Ciências Biológicas da UTT.

A pesquisa busca conhecer o complexo sistema de microrganismos que vivem em simbiose com esses invertebrados, que contam com até seis bactérias e fungos intracelulares distintos interagindo e fornecendo funções metabólicas essenciais para o hospedeiro.

Segundo Pupo, o objetivo final é identificar potenciais agentes terapêuticos para doenças que afetam humanos.

O professor Chris Rock, do Departamento de Ciências Biológicas da UTT, apresentou seu projeto realizado em colaboração com Ivan de Godoy Maia, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu.

A dupla investiga genes envolvidos na produção de compostos bioativos em plantas, como antocianinas.

Andrea Jackowski, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e suas colaboradoras da UTT, apresentaram o projeto colaborativo voltado a estudar os efeitos do estresse tóxico sobre o neurodesenvolvimento, a cognição e os aspectos sócioemocionais em crianças e adolescentes no Brasil e nos Estados Unidos (mais informações neste link).

Já Naima Moustaid-Moussa, do Grupo de Pesquisa sobre Obesidade da UTT, e Theresa Ramalho, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, falaram sobre um estudo que busca entender os mecanismos pelos quais os ácidos graxos do tipo ômega 3 protegem animais de laboratórios submetidos a dieta hiperlipídica contra o desenvolvimento de doenças metabólicas e inflamatórias. O trabalho também é coordenado pela professora do ICB-USP Sônia Jancar.

Este conteúdo foi originalmente publicado no site da Agência Fapesp.

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