Ciência

Mesmo com calorias iguais, ultraprocessados engordam mais que comida fresca

Pesquisa internacional revela que alimentos industrializados aumentam gordura corporal e introduzem poluentes ligados à queda na qualidade do esperma

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 1 de setembro de 2025 às 14h15.

Última atualização em 1 de setembro de 2025 às 14h45.

Duas dietas com o mesmo número de calorias, proteínas, carboidratos e gorduras. Dois grupos de jovens saudáveis, submetidos a cada uma delas durante três semanas. No papel, deveriam ter os mesmos resultados. Mas não foi o que aconteceu.

Pesquisadores da Universidade de Copenhague e da Université Côte d’Azur mostraram que homens que consumiram alimentos ultraprocessados ganharam cerca de 1 quilo a mais de gordura corporal do que aqueles que comeram alimentos minimamente processados — mesmo sem diferença nas calorias ingeridas.

O estudo, publicado na revista Cell Metabolism, também revelou alterações hormonais ligadas à produção de esperma e aumento da presença de substâncias químicas derivadas de plásticos no corpo. O resultado reforça um enigma que se arrasta há décadas. Nos últimos 50 anos, as taxas de obesidade e diabetes tipo 2 dispararam, enquanto a qualidade do esperma humano caiu drasticamente.

A ascensão dos ultraprocessadosalimentos produzidos com ingredientes industriais, aditivos e alta densidade energética — é apontada como fator central. O que ainda intrigava os cientistas era se o problema estava no excesso de consumo, nos próprios ingredientes ou no modo de processamento.

O novo trabalho sugere que é a própria natureza industrial desses produtos que prejudica a saúde. “Nossos resultados provam que os ultraprocessados afetam o metabolismo e a reprodução, mesmo quando não há excesso alimentar”, afirma Jessica Preston, autora principal do estudo, realizado durante seu doutorado no NNF Center for Basic Metabolic Research.

Para chegar à conclusão, os cientistas recrutaram 43 homens de 20 a 35 anos, que passaram três semanas em cada uma das dietas (ultraprocessada e não processada), com um intervalo de três meses entre os períodos. Metade deles recebeu uma dieta com 500 calorias extras por dia; a outra metade, apenas a quantidade adequada para peso e nível de atividade física. Em ambos os casos, os ultraprocessados resultaram em maior acúmulo de gordura. Marcadores de saúde cardiovascular também se deterioraram.

Mais alarmante foi o efeito sobre a fertilidade. Homens na dieta ultraprocessada tiveram queda nos níveis de testosterona e de hormônio folículo-estimulante, ambos fundamentais para a produção de espermatozoides. Além disso, o sangue desses voluntários apresentou concentrações maiores de ftalato cxMINP, composto usado em plásticos que atua como disruptor endócrino.

O recado, portanto, vai além do equilíbrio calórico. Em um mundo que durante décadas reduziu a alimentação à matemática de calorias, proteínas, gorduras e carboidratos, a pesquisa sugere que a equação está incompleta. O que importa não é apenas quanto se come, mas quanto a indústria processa o que vai ao prato.

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