Ciência

Mentiras do WhatsApp: inalar vapor não mata covid-19

Segundo o infectologista Daniel Bargieri, o vapor em temperaturas altas funcionaria apenas para queimar as vias aéreas

Vapor: ciência não encontrou eficácia contra covid-19 (Trifonov_Evgeniy/Getty Images)

Vapor: ciência não encontrou eficácia contra covid-19 (Trifonov_Evgeniy/Getty Images)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 4 de fevereiro de 2021 às 10h59.

Última atualização em 4 de fevereiro de 2021 às 12h39.

Uma corrente encaminhada diversas vezes no aplicativo de mensagens WhatsApp afirma que é possível "matar o novo coronavírus com vapor no nariz". Segundo a corrente, atribuída a uma doutora chamada Marisa Emeg, "a 50ºC, o vírus se torna desativado, a 60ºC, tão fraco que qualquer sistema de imunidade pode lutar contra, e, a 70ºC, morre completamente".

Em uma breve pesquisa, a EXAME não encontrou Emeg em nenhum site que certifica médicos e a mesma publicação enviada no WhatsApp foi encontrada em diversos perfis no Facebook – tanto brasileiros quanto americanos.

Segundo o infectologista Daniel Bargieri, o vapor a essa temperatura funcionaria apenas para queimar as vias aéreas. Com as altas temperaturas, as pessoas poderiam perder o olfato e o paladar, mas não acabar com um quadro de covid-19. "A inativação de microorganismos pelo calor exige altas temperaturas e longo tempo de exposição. Para inativar vírus presente nas vias aéreas através do uso de calor, os efeitos colaterais inevitáveis seriam queimaduras graves das mucosas.", afirma.

Em outro momento da corrente, a suposta doutora Emeg afirma que "se todas as pessoas começarem uma campanha de inalação/impulso por uma semana, a pandemia vai acabar". Mais uma inverdade.

(WhatsApp)

Um estudo recente publicado no jornal científico Life Sciences afirma que, sim, o vapor pode ajudar a mitigar o SARS-CoV-2, mas somente em casos assintomáticos da doença, a um grau mais baixo e por menos tempo.

De acordo com a pesquisa, a mucosa nasal foi exposta ao vapor por ao menos 20 minutos (com 5 ciclos de 4 minutos) por até quatro dias consecutivos a uma temperatura de 55 a 65º – todos os participantes do estudo, no entanto, tinham as cabeças cobertas por toalhas para evitar queimaduras e se mantiveram a cerca de 30 centímetros de distância da água quente.

O estudo foi preliminar e teve uma amostra muito pequena de pessoas (10 indivíduos) para confirmar os benefícios do vapor no tratamento da covid-19. Portanto, não existe, até o momento, qualquer comprovação de que o vapor mata o SARS-CoV-2.

Isso não serve de encorajamento para as pessoas inalarem vapor para prevenir ou tratar a covid-19, principalmente se elas não praticam outros meios para evitar a doença, como lavar as mãos com frequência, usar máscaras e se distanciar socialmente.

A corrente também afirma que "se todos adotarem essa prática por uma semana, a mortal covid-19 será apagada" – o que também não é verdade.

Para a médica Silvia Boscardin, uma fake news como essa é extremamente perigosa. "O vírus se replica dentro da célula e não há vapor que possa matá-lo dentro do organismo", diz.

Uma revisão sobre o uso de vapor em casa afirma que a prática causou queimaduras, informação que também foi compartilhada por várias organizações médicas.

Até o momento, comprovações científicas mostram que apenas o distanciamento social e o uso de máscaras podem ajudar a diminuir o contágio do vírus – e que somente uma vacina pode acabar com a pandemia. Então, não, o vapor não vai acabar com a covid-19. É bom tomar cuidado.

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