Ciência

Menos estressados, mas infectados: fuga do isolamento pode causar 2ª onda

Segundo pesquisadora, flexibilização do isolamento diminui estresse mas aumenta temor de segunda onda de contaminação pelo coronavírus

Com o isolamento social, as pessoas estão no limite da tolerância. Porém, uma flexibilização prematura pode causar mais problemas em curto prazo (Andre Coelho/Getty Images)

Com o isolamento social, as pessoas estão no limite da tolerância. Porém, uma flexibilização prematura pode causar mais problemas em curto prazo (Andre Coelho/Getty Images)

Janaína Ribeiro

Janaína Ribeiro

Publicado em 15 de junho de 2020 às 09h00.

Quem não pensou em sair correndo de casa na primeira oportunidade de flexibilização do isolamento causado pela pandemia que atire a primeira pedra. O prazer de ir a um shopping, ver gente circulando nas ruas, tomar um café sem ser o coado em casa ou ainda comprar algum item e já levar pra casa sem ter de aguardar a entrega.

Só de pensar parece que a mente já agradece. O estresse causado pela pandemia, não apenas pelo distanciamento social, mas também pelas vítimas do coronavírus, já arrasta um multidão considerável. Segundo pesquisa realizada em maio pelo Instituto de Psicologia e Controle do Stress (IPCS), 60% dos 3.206 entrevistados disseram se sentir muito estressados. Se comparado com pesquisa de 2018, houve um aumento de 9% de pessoas com o autodiagnóstico.

Marilda Novaes Lipp, responsável pela pesquisa, diz que preocupações como o desemprego e o sustento básico já são fatores suficientes para desencadear estresse, depressão, pânico e ansiedade. Quando o estresse aumenta, desencadeia uma série de doenças pré-programadas que, segundo a pesquisadora, talvez nem dariam as caras. "Você já nasce com alguma predisposição a ter alguma doença no decorrer da vida. Com o aumento do estresse, existe a possibilidade destas vulnerabilidades aflorarem", diz Lipp

A pesquisadora diz que, além do coronavírus, a instabilidade política e as incertezas com as declarações dos governantes fazem o ser humano se sentir desprotegido. "As pessoas precisam ter proteção, e o sentimento que se tem é exatamente o contrário, levando à uma instabilidade de humor", afirma Lipp. Dos entrevistados, 48% se dizem nem um pouco confiantes com o governo, 27% se declaram pouco confiantes e 2,23%, extremamente confiantes.

Pessoas no limite da tolerância

Diferentemente dos mais ricos, que podem se dar ao luxo de sentir menos o baque do isolamento em suas casas suntuosas passando a quarentena na casa de férias — na praia ou no campo —, a classe média geralmente fica reclusa em seu apartamento ou casa, na maioria das vezes com mais de 4, 5, 6 pessoas no mesmo ambiente. Lipp diz que as pessoas comuns estão no limite da tolerância, porque "a tempestade é a mesma, porém os barcos que são diferentes".

Com a flexibilização do isolamento e autorização de reabertura de centros comerciais, voltaram as filas e aglomerações em shoppings.

"O ser humano é gerenciado pelo prazer imediato. É um hedonismo imediato. As pessoas querem o alívio da tensão de estarem presas. Equivale àquela pessoa que procura refúgio nas drogas. Porém, aí que está o perigo", aponta Lipp.

Uma possível segunda onda de contaminação pela covid-19 pode acometer essas pessoas em busca de aliviar a tensão causada pelo isolamento. "As pessoas podem começar a adoecer infectadas pelo vírus e, consequentemente, aumentar novamente o estresse". É como uma bola de neve.

Para tentar driblar os efeitos do isolamento:

1 - É preciso aceitar o que está acontecendo. A situação mudou, o ambiente mudou. Este é o novo normal. É necessário adaptar o comportamento já que nada será como antes. Aceitação é fundamental para lidar com qualquer realidade.

2 - Tentar proteger sua saúde mental com pensamentos positivos. Não há crise que dure para sempre.

3 - Entender que o isolamento é temporário e fazer coisas para preservar a saúde mental e física: dormir bem, praticar atividades físicas, se alimentar melhor.

4 - Ocupar a mente com coisas boas: vendo filmes e séries, lendo livros, ouvindo música, cuidando de plantas ou cozinhando.

5 - Aproveitar o momento para construir memórias da família: criar um histórico para as crianças levarem aos seus filhos no futuro.

6 - Enxergar o seu parceiro(a). No início de um relacionamento há grande interesse pela pessoa, pergunta-se tudo a respeito dele(a). Depois de certo tempo, quase nada (ou nada) mais é questionado. Só se "vive" com a pessoa. Hoje o seu parceiro pode ser totalmente diferente da pessoa que você conheceu. Este momento é também de redescoberta para ambos.

7 - Não se acomode. Não fique de pijama 24 horas por dia.

8 - Quem se adapta melhor é o que sobrevive. Quem adquire estratégias de enfrentamento durante essa pandemia vive melhor. E todos podem aprender. São novas maneiras de viver.

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