(Jarbas Oliveira/AFP)
Agência O Globo
Publicado em 1 de outubro de 2021 às 10h02.
Última atualização em 1 de outubro de 2021 às 14h35.
Num momento em que o Brasil enfrenta o pior investimento em ciência e tecnologia dos últimos 12 anos, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a esperança de um futuro com mais oportunidades têm surgido através das crianças. Uma delas é a alagoana Nicole Oliveira. Com apenas oito anos de idade, Nicolinha, como é carinhosamente conhecida, já tem uma carreira em formação e um futuro brilhante em mente: ser engenheira aeroespacial para construir foguetes. Ela, que já conquistou o título de astrônoma amadora e mapeou 23 asteroides, pode se tornar a pessoa mais jovem do mundo a descobrir corpos rochosos.
As duas primeiras descobertas espaciais aconteceram no ano passado, quando Nicole foi aprovada no projeto Caça-asteroides, do International Astronomical Search Collaboration (IASC) — programa de amplitude nacional da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (NASA), que ensina ciência na prática em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). A paixão da menina pela astronomia mobilizou a instituição que, desde então, alterou suas políticas de participação e faixa etária. Assim, Nicolinha se tornou a pessoa mais jovem a integrar a equipe e abriu espaço para mais crianças que desejam seguir o mesmo caminho.
A impossibilidade de estar junto aos amigos presencialmente no IASC durante o período de pandemia da Covid-19, instigou Nicole a criar o seu próprio Clube de Astronomia infantil online. Em um ano, a iniciativa conta com a participação de 72 crianças de diferentes regiões do país, que aprendem junto a ela e especialistas do programa da NASA curiosidades do espaço sideral. Outros projetos criados pela futura engenheira aeroespacial foram canais no YouTube e Instagram, também usados para difundir a ciência. Juntas, as redes somam mais de 23 mil seguidores.
— Eu falei para a minha mãe que não queria parar de estar junto com as crianças. Eu amo explicar sobre as estrelas, Saturno e é muito legal ficar, às vezes, até de noite falando sobre astronomia — conta Nicole.
Apesar do amor pelas galáxias não ter vindo de berço, ele brotou logo aos dois anos, quando Nicole nem sabia balbuciar frases, mas já conseguia pedir à mãe uma estrela. Sem entender que a filha se referia àquela vista no céu, a anos-luz de distância, Zilma Janacá, de 43 anos, comprava brinquedos em forma de astros para presenteá-la. As brincadeiras com bonecas também eram frequentes, desde que todas elas fossem cientistas apaixonadas por viagens intergaláticas.
— Ela colocava as bonecas para voar e dizia ser uma astronauta. Como ninguém da família é da área da ciência, a única explicação é que o amor pela astronomia veio de fábrica — afirma a mãe.
Desde os cinco anos de idade, Nicole desistiu de suas festas de aniversário para investir em um telescópio. Com ajuda de vaquinhas, os pais conseguiram comprar o equipamento quando ela completou sete anos e, finalmente, permitir que a filha visse de perto as estrelas que desde os dois pedia.
Outras conquistas da pequena astrônoma são as co-criações de três livros, os quais ela publicou crônicas autorais sobre o sistema solar e o planeta Saturno. Para o futuro, ela almeja que alguns dos asteroides descobertos por ela sejam inéditos, a fim de que possa receber o título de mais jovem astrônoma do mundo e homenagear os corpos rochosos com nomes dos familiares e duas inspiradoras cientistas brasileiras: Duília de Mello e Rosaly Lopes. O processo de reconhecimento dos asteroides será feito pelo Comitê Permanente Interinstitucional da NASA e pode levar de três a dez anos.
Para Nicole, é um prazer ser referência e inspirar outras pessoas na ciência. Segundo ela, que atualmente cursa o terceiro ano do ensino fundamental, acima de todas as suas vontades, o maior sonho é que todas as crianças do Brasil tenham acesso à ciência e à educação de qualidade.
— Meu sonho é descobrir vários asteroides, trabalhar na NASA, estudar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Mas eu quero muito mesmo que todas as crianças também possam sonhar com tudo isso.