Mediterrâneo: autores apontam que a área já atinge um aumento de temperatura de 1,5ºC em relação ao período pré-industrial, acima da média mundial de 1,1° C (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 10 de outubro de 2019 às 11h57.
Nas margens dos três continentes, o Mar Mediterrâneo é uma das regiões mais afetadas pela crise climática global, com um aumento nas temperaturas acima da média que ameaça os recursos hídricos e alimentares - alertaram cientistas desta região.
É o que afirma um estudo do MedECC, uma rede de mais de 600 pesquisadores especializados em mudanças climáticas na região, apresentada nesta semana em Barcelona durante um fórum da União para o Mediterrâneo.
"Somos uma das regiões mais afetadas pelas mudanças climáticas em todo mundo", disse Nasser Kamel, secretário-geral desse órgão que reúne os 28 países da União Europeia e outros 15 da costa sul e leste do Mediterrâneo.
No estudo "Os riscos associados às mudanças climáticas e ambientais na região do Mediterrâneo", os autores apontam que a área já atinge um aumento de temperatura de 1,5ºC em relação ao período pré-industrial, acima da média mundial de 1,1° C.
Em 2040, o aquecimento deve atingir 2,2ºC e, em algumas áreas da bacia do Mediterrâneo, pode atingir 3,8ºC no final do século, enquanto episódios de ondas de calor comuns nos últimos anos serão "mais frequentes e/ou mais intensos", alerta o texto.
Esse aumento de temperatura será paralelo a "uma redução nas chuvas nas próximas décadas", com uma queda de até 30% em algumas áreas como os Bálcãs e a Turquia e, em vez disso, um aumento nos episódios de tempestades torrenciais.
A combinação de aquecimento e falta de chuvas "contribui para uma forte tendência de secar o clima", dizem os cientistas.
Tudo isso ameaça os recursos hídricos e alimentares na bacia do Mediterrâneo.
Segundo os autores do estudo, "a população mediterrânea considerada 'pobre em água' (...) passará de 180 milhões em 2013 para mais de 250 milhões nos próximos 20 anos".
As culturas também podem ser afetadas pela menor qualidade do solo, ou por perdas de colheita, devido a secas, ou a ondas de calor, enquanto a pesca será afetada pela superexploração e pelo desaparecimento de espécies em função do aquecimento do mar.
"As inevitáveis calamidades da mudança climática pairam sobre o Mediterrâneo a uma taxa mais rápida do que pensávamos", insistiu Kamel.