Ciência

Médicos descobrem "grande truque" que leva a casos mais graves de covid-19

Em certos pacientes, vírus teria a capacidade de retardar a resposta imunológica do organismo, levando a quadros mais graves da doença

 (KATERYNA KON/SCIENCE PHOTO LIBRARY/Getty Images)

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Fabiane Stefano

Publicado em 26 de setembro de 2020 às 08h15.

Última atualização em 26 de setembro de 2020 às 09h49.

Quando dois irmãos adoeceram gravemente de covid-19 na mesma época em março, seus médicos ficaram perplexos. Ambos eram jovens - 29 e 31 anos - e saudáveis. No entanto, em poucos dias não conseguiam respirar por conta própria e, tragicamente, um deles morreu.

Duas semanas depois, quando outros dois irmãos afetados por covid, ambos na casa dos 20 anos, surgiram nos Países Baixos, geneticistas foram chamados para investigar. O que descobriram foi um caminho que conduz a casos graves, marcado por variações genéticas e diferenças de gênero que levam a uma perda da função imunológica. Em última análise, a descoberta pode produzir uma nova abordagem para o tratamento de milhares de pacientes com coronavírus.

O fio condutor da pesquisa é a falta de uma substância chamada interferon que ajuda a orquestrar a defesa do corpo contra patógenos virais e pode ser administrada para tratar doenças como hepatite infecciosa. Agora, mais evidências sugerem que uma minoria significativa de pacientes de covid-19 fica muito doente por causa de uma resposta deficiente de interferon. Estudos publicados na quinta-feira na revista Science mostraram que uma quantidade insuficiente de interferon pode indicar um ponto de inflexão perigoso nas infecções de SARS-CoV-2.

Parece que este vírus tem um grande truque”, disse Shane Crotty, professor do Centro de Pesquisa de Doenças Infecciosas e Vacinas do Instituto de Imunologia La Jolla, na Califórnia. “Esse grande truque é evitar a resposta imune inata inicial por um período significativo de tempo e, em particular, evitar uma resposta inicial do interferon tipo 1.”

O trabalho destaca o potencial de terapias baseadas em interferon para ampliar uma gama de tratamentos para a covid-19. Isso inclui o remdesivir da Gilead Sciences, e plasma convalescente, um componente do sangue de pacientes recuperados que pode conter fatores imunológicos benéficos.

Esses tratamentos fornecem benefícios limitados e são normalmente usados em pacientes muito doentes e hospitalizados. A possibilidade de o interferon ajudar algumas pessoas é atraente, porque parece mais eficaz nos estágios iniciais da infecção, quando a insuficiência respiratória com risco de vida ainda poderia ser evitada. Dezenas de estudos de tratamento com interferon estão agora recrutando pacientes de covid-19.

“Achamos que o momento certo pode ser essencial, porque é apenas na fase inicial que se pode realmente combater as partículas de vírus e se defender contra a infecção”, disse Alexander Hoischen, chefe do grupo de tecnologias genômicas e imunogenômicas do Radboud University Medical Center em Nimegue, que analisou o DNA dos dois conjuntos de irmãos.

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