Ciência

Coronavírus menos letal? Médicos se dizem perplexos com afirmação

Após médico italiano dizer que o coronavírus "não existe mais clinicamente" na Itália, colegas expressaram "perplexidade" e pediram cautela

Cidadãos em quarentena em Codogno, no norte da Itália. (Marzio Toniolo/Reuters)

Cidadãos em quarentena em Codogno, no norte da Itália. (Marzio Toniolo/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 2 de junho de 2020 às 10h25.

Última atualização em 2 de junho de 2020 às 12h40.

Médicos italianos rebateram o colega Alberto Zangrillo, chefe do hospital San Raffaele, em Milão, após sua afirmação nesta semana de que o o novo coronavírus perdeu potência e ficou menos letal.

"Eu só posso expressar minha grande surpresa e absoluta perplexidade pelas declarações feitas pelo professor Zangrillo. Basta olhar o número de novos casos confirmados diariamente para ter evidências da persistência da circulação do vírus na Itália", disse o médico Franco Locatelli, diretor do Conselho Nacional de Saúde da Itália, ligado ao Ministério da Saúde, conforme reportou a agência de notícias italiana Ansa.

Zangrillo, que além de chefe do hospital em Milão é também conhecido por ser médico do ex-premiê Silvio Berlusconi, gerou controvérsias na Itália e na comunidade de saúde internacional ao dizer que “na verdade, o vírus clinicamente não existe mais na Itália”.

A declaração foi feita em entrevista à emissora de TV RAI, segundo a agência Reuters. “As amostras que analisamos nos últimos dez dias mostram que a carga viral em termos quantitativos é absolutamente ínfima comparada à que tínhamos um ou dois meses atrás", disse.

O governo italiano também se manifestou e disse que o debate pode "confundir" os italianos, em nota veiculada pela Reuters. "Carece de evidência científica para embasar a tese de que o vírus desapareceu", escreveu Sandra Zampa, uma secretária do ministério da Saúde. "Eu convidaria àqueles que dizem que estão certos disso a não confundir os italianos".

Na segunda-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que o vírus não ficou menos perigoso, embora não tenha citado diretamente as discussões na Itália. "Este é um vírus que ainda é letal", disse Michael Ryan, diretor-executivo do programa de emergências de saúde da OMS.

Zangrillo defendeu a tese de que o coronavírus teria se tornado menos letal com base em estudos de colegas. O especialista acredita que alguns cientistas foram alarmistas demais ao propor uma segunda onda de infecções pelo novo coronavírus. “Voltamos a ser um país normal”, declarou. “Alguém precisa se responsabilizar por aterrorizar o país.”

Outro médico, Matteo Bassetti, chefe de doenças infecciosas no hospital San Martino, na Itália, também acredita que o novo coronavírus perdeu tração. “A força que o vírus tinha dois meses atrás não é a mesma que tem hoje”, afirmou Bassetti em entrevista à Ansa.

Como outros países da Europa que tiveram pico de casos do coronavírus em março, a Itália vem tendo redução no número de novos casos e mortes por covid-19. Desde 24 de maio, a Itália vem registrando menos de 600 novos casos por dia.

Ainda assim, segue sendo o terceiro país do mundo com mais mortes, atrás de Estados Unidos e Reino Unido. A Itália registrou até agora mais de 39.000 mortes pela covid-19. Em número de casos, é o sexto país, com mais de 233.000 infectados (ficando atrás do Brasil, o segundo país com mais casos, acima de 500.000 confirmados, atrás dos Estados Unidos).

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusMilão

Mais de Ciência

Há quase 50 anos no espaço e a 15 bilhões de milhas da Terra, Voyager 1 enfrenta desafios

Projeção aponta aumento significativo de mortes por resistência a antibióticos até 2050

Novo vírus transmitido por carrapato atinge cérebro, diz revista científica

Por que a teoria de Stephen Hawking sobre buracos negros pode estar errada