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Médicos aprovam uso de WhatsApp para contato com pacientes

Pesquisa da Associação Paulista de Medicina apontou que médicos aprovam uso de tecnologia; estudo acendeu debate sobre telemedicina no país

Médicos são a favor do uso de tecnologia na área (mikroman6/Getty Images)

Médicos são a favor do uso de tecnologia na área (mikroman6/Getty Images)

LN

Letícia Naísa

Publicado em 5 de dezembro de 2018 às 13h39.

Última atualização em 5 de dezembro de 2018 às 16h25.

São Paulo — Uma pesquisa feita com 848 médicos de São Paulo pela Associação Paulista de Medicina (APM) apontou que 85% dos profissionais são favoráveis ao uso do WhatsApp para falar com pacientes.

A maior parte dos médicos (42%) que concordam com o uso do aplicativo o utiliza para tirar dúvidas dos pacientes entre consultas.

Antonio Carlos Endrigo, diretor de TI da APM, atenta, contudo, que o WhatsApp não foi desenvolvido pensando na relação entre médicos e pacientes.

“Na falta de algo semelhante, o aplicativo é usado para este fim, mas existe um problema: acaba não havendo um registro do atendimento, ou ele pode ser modificado. É preciso ter uma regulamentação que abra a possibilidade de empresas de tecnologia adequadas possam atender o setor de saúde”, diz.

Para Robert Wah, endocrinologista, ex-presidente da Associação Americana de Medicina (Ama, na sigla em inglês) e consultor global do setor de saúde da DXC Technology, pensar na questão de segurança é fundamental, uma vez que o vazamento de informações médicas pode ter consequências irreparáveis para os pacientes. “Não é como um cartão de crédito que você pode cancelar. Por milhares de anos, pacientes fornecem informações pessoais para os médicos poderem cuidar melhor, é uma relação de confiança. Como médico, tenho obrigação de manter o sigilo.”

A solução, segundo Wah, é colocar a segurança de tecnologias relacionadas a saúde no mesmo patamar da segurança presente no mercado financeiro, por exemplo. “O WhatsApp é conveniente mas não é seguro para informações privadas. Às vezes as pessoas fazem o que é conveniente e não o que é seguro. Temos que aprender com outros mercados como nos proteger”, diz.

Atualmente, não existe uma regulamentação recente no Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre o uso de novas tecnologias na prática médica.

“Existe uma preocupação legítima do CFM com a questão ética com a segurança, mas acho que existe um aspecto de não ter a clara percepção do impacto positivo que a telemedicina pode ter e existe certo corporativismo”, afirma Jefferson Fernandes, presidente do conselho curador do Global Summit Telemedicine & Digital Health (evento sobre telemedicina que acontecerá em abril de 2019). “Estamos muito atrasados com relação a outros países.”

A pesquisa da APM, no entanto, aponta uma contradição. Apesar dos médicos serem favoráveis ao uso do WhatsApp, 57% dos entrevistados são contra a realização de consultas à distância.

Nos Estados Unidos, o uso da telemedicina tem avançado. Segundo a Associação Americana de Telemedicina, quase 1 milhão de pacientes usam monitores cardíacos remotos. Em 2011, o departamento de saúde dos veteranos de guerra realizou mais 300 mil consultas à distância.

Para o Wah, a tecnologia pode diminuir a distância entre pacientes e médicos e é uma ferramenta poderosa para cuidar melhor de pacientes. “Não precisa ser nada sofisticado, para algumas pessoas, um lembrete por mensagem de exames é o suficiente. E isso é considerado telemedicina também”, afirma.

Mesmo assim, os médicos acreditam que devem se adaptar à realidade da presença da tecnologia na saúde. No Brasil, o mercado de telemedicina toma conta de cerca de 28% do mercado de saúde. Além do WhatsApp, o prontuário eletrônico é outra ferramenta bastante popular: é usado por 77% dos médicos paulistas entrevistados pela APM.

Para o neurologista Jefferson Fernandes, presidente do conselho curador do Global Summit Telemedicine & Digital Health (evento sobre telemedicina que acontecerá em abril de 2019), o Sistema Único de Saúde (SUS) pode se beneficiar amplamente com a telemedicina. Para isso, é preciso haver pressão do Ministério da Saúde para uma regulamentação também.

“Hoje existe o Telessaúde Brasil Redes, que ainda precisa evoluir. Mas o paciente leva muito tempo para marcar consulta pelo SUS, então tem retornos que podem ser feitos à distância, o que reduz a fila no sistema”, diz Fernandes. “Em países como a Índia, isso é muito utilizado e leva especialistas para lugares onde não tem.”

Segundo médico, do ponto de vista da economia, a telemedicina barateia os custos de saúde. “O que é mais caro é o profissional de saúde. O Brasil consegue, sem dúvida reduziria os custos, poderia atender milhões de pessoas por meio da telemedicina”, diz Fernandes.

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