Ciência

Medicamento coreano contra covid-19 chega ao Brasil nesta sexta-feira

O Regdanvimabe foi aprovado para uso emergencial pela Anvisa em agosto; expectativa do fabricante é vender para os setores público e privado

Medicamento chega ao Brasil nesta sexta-feira e deve ser distribuído ainda em setembro, segundo fabricante (SB/Getty Images)

Medicamento chega ao Brasil nesta sexta-feira e deve ser distribuído ainda em setembro, segundo fabricante (SB/Getty Images)

KS

Karina Souza

Publicado em 1 de setembro de 2021 às 17h33.

Última atualização em 2 de setembro de 2021 às 17h21.

O medicamento Regkirona (regdanvimabe), que tem como objetivo tratar casos iniciais de covid-19, chega ao Brasil nesta sexta-feira, 3. O produto foi aprovado para uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no dia 11 de agosto e deve ter seu uso restrito a hospitais -- públicos e privados. O regdanvimabe é um anticorpo monoclonal, ou seja, é um produto produzido em labratório e que reproduz as defesas do organismo capazes de ajudar o corpo a combater alguma doença específica. A empresa lembra que o medicamento não será vendido em farmácias, não funciona como tratamento precoce para a covid-19 e terá uso exclusivo dentro de hospitais.

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O primeiro lote do medicamento a chegar no Brasil deve ter 1.200 doses, importadas da Coreia do Sul. O país asiático é a principal sede do fabricante do medicamento, a biofarmacêutica Celltrion Helthcare, que já comercializa no Brasil medicamentos contra o câncer como o Trastuzumabe (anticorpo monoclonal utilizado no tratamento de câncer de mama), o Rituximabe, outro anticorpo monoclonal destinado ao tratamento de linfomas e leucemias, e o Infliximabe, medicamento destinado ao tratamento de doenças autoimunes como artrite reumatóide e doença de Crohn.

Por aqui, a empresa ainda não divulga o preço do medicamento, que deve ser estabelecido a partir da liberação do primeiro lote do medicamento pela Anvisa. Em termos práticos: a agência tem de checar toda a documentação, laudos de controle de qualidade, entre outros critérios, antes de liberar o medicamento para distribuição no país. Trata-se de um procedimento comum em todos os medicamentos importados.

Em relação aos clientes, a empresa afirma que está no início das negociações com entes públicos e privados e, por enquanto, ainda não tem nenhuma venda fechada do medicamento.

Apesar do baixo número de doses importadas neste mês, a empresa garante que tem a capacidade de importar volumes bem maiores, capazes de atender à população brasileira como um todo. "Por enquanto, ainda não é possível importar a tecnologia para produzir o medicamento no Brasil, mas contamos com uma ampla rede de distribuição por aqui e queremos ampliar cada vez mais a presença do medicamento no país", diz Michel Batista, gerente sênior de negócios da Celltron no Brasil.

O principal objetivo do Regdanvimabe é usá-lo em pacientes de alto risco (idosos com comorbidades, pessoas com IMC superior a 35, com doenças imunosupressoras e com doenças pulmonar e respiratória, por exemplo), já logo quando tiverem a confirmação de que estão contaminados com a covid-19. "Quanto mais cedo, melhor. Em nossos testes, percebemos que, quando o medicamento é usado até o sétimo dia pós-confirmação da doença, temos resultados satisfatórios", diz Michel.

Em testes de fase 3 realizados pela empresa com 1.315 pacientes, 72% deles não evoluíram para casos graves da doença e, aos que tiveram de ir ao hospital, tiveram o tempo de internação reduzido. Esse resultado foi apresentado no congresso médico European Congress of Clinical Microbiology & Infectious Diseases em 2020.

Em relação às variantes, a empresa conduziu alguns testes em fase pré-clínica -- ou seja, ainda não foram testados em humanos -- e obteve resultados satisfatórios contra a variante B.1.351 (encontrada pela primeira vez na África do Sul), P.1 (encontrada pela primeira vez no Brasil) e a variante B.1.617.2 (Delta, encontrada pela primeira vez na Índia).  A empresa afirma que os testes conduzidos até o momento, com as variantes, foram feitos utilizando uma técnica chamada PRNT. Em linhas gerais, esse teste é o mesmo usado para ver a ação de anticorpos de uma pessoa vacinada ou previamente infectada pela febre amarela.

Hoje, além do Brasil, o medicamento é usado na Coreia do Sul, Espanha, Indonésia e Áustria, segundo a empresa. A Celltron também já submeteu o medicamento à aprovação do FDA (a "Anvisa" dos Estados Unidos) e aguarda aprovação e, na União Europeia, obteve o aval para que países que queiram utilizar o medicamento possam fazê-lo.

Outros medicamentos contra a covid-19

Além dos anticorpos fabricados pela Celltrion Healthcare, a Anvisa já concedeu autorização emergencial a outros medicamentos que atuam de forma semelhante. O primeiro é o REGN-COV2comercializado pela farmacêutica Roche e desenvolvido em parceria com a empresa Regeneron. A aplicação do medicamento tabém é intravenosa, com uso é restrito a hospitais e a venda é proibida ao comércio. O remédio também não substitui a vacina contra covid-19 e não serve como prevenção da doença. 

Segundo a Anvisa, o tratamento é indicado para o tratamento de casos leves ou moderados de covid-19 para adultos e crianças - com 12 anos ou mais que pesem no mínimo 40 kg - que não necessitam de suplementação de oxigênio, que apresentam alto risco de progressão para um caso grave.

O segundo medicamento semelhante aprovado pela Anvisa é o Remdesivir, da farmacêutica Gilead. Ele tem um histórico um pouco mais controverso: em estudo de janeiro deste ano, um dos mais recentes sobre o Remdesivir, apontou que a medicação ajuda a impedir o coronavírus de se reproduzir no corpo, inibindo algumas características do vírus. Os autores afirmam que a propriedade é conseguida diante de uma dose alta do medicamento. "Atualmente, é um regime de 5 dias tomando bastante Remdesivir", disse Kenneth Johnson, co-autor da pesquisa.

Ao mesmo tempo, a droga, usada desde novembro de maneira emergencial nos Estados Unidos, já foi desaconselhada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A decisão do órgão global aconteceu após uma publicação no jornal de medicina britânico BMJ, no ano passado, apontando que o medicamento não ajudava a minimizar mortes ou o agravamento da doença.

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