Ciência

"Lua de sangue" deslumbra amantes da astronomia

Longo eclipse lunar coincidiu com aproximação de Marte

Lua cheia vista durante eclipse lunar no céu de Frankfurt, Alemanha.  (Kai Pfaffenbach/Reuters)

Lua cheia vista durante eclipse lunar no céu de Frankfurt, Alemanha. (Kai Pfaffenbach/Reuters)

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AFP

Publicado em 28 de julho de 2018 às 10h10.

O mais longo eclipse "lua de sangue" deste século ocorreu nesta sexta-feira (27), coincidindo com a maior aproximação em 15 anos de Marte do nosso planeta, oferecendo um espetáculo celestial aos observadores no mundo todo.

Conforme a Lua lentamente navegava pelos céus, multidões se reuniram em todo o mundo para assistir ao fenômeno raro, que começou às 17h14 e terminou às 23h28 GMT (14h14 às 20h28 em Brasília).

Durante seis horas e 14 minutos, para cerca da metade do mundo a lua ficou parcialmente ou totalmente na sombra da Terra.

A duração do eclipse completo - conhecido como "totalidade", quando a lua parece mais escura - se estendeu das 19h30 às 21h13 GMT (16h30 às 18h13 em Brasília).

Ao mesmo tempo, Marte apareceu perto da lua no céu noturno, facilmente visível a olho nu.

Ao lado do Lago Magadi, 100 quilômetros a sudoeste da capital queniana, Nairóbi, jovens membros da comunidade Maasai assistiram ao eclipse através de um telescópio de alta potência fornecido por um casal local.

"Até hoje eu achava que Marte, Júpiter e os outros planetas estavam na imaginação dos cientistas", disse Purity Sailepo, 16 anos, à AFP.

"Mas agora que eu os vi, posso acreditar, e quero ser um astrônomo para contar a outras pessoas", acrescentou.

Diferentemente de como acontece com um eclipse solar, os espectadores não precisaram de equipamentos de proteção para observar este fenômeno raro.

Os astrônomos amadores do hemisfério sul ficaram melhor posicionados para apreciar o espetáculo, especialmente os do sul da África, Austrália, Sul da Ásia e Madagascar, mas o fenômeno também foi parcialmente visível na Europa e na América do Sul.

Na América do Sul, foi visível na penumbra crepuscular de sexta-feira na costa oriental do continente, no Brasil, Uruguai e Argentina.

Mais de 2.000 pessoas, incluindo muitas crianças com binóculos, se reuniram na capital tunisiana de Túnis.

"Espero que este eclipse nos traga felicidade e paz", disse Karima, 46 anos, sem tirar os olhos do céu.

No entanto, o mau tempo impediu a exibição cósmica em várias partes do mundo.

Tempestades de monção generalizadas e nuvens espessas esconderam a lua em grande parte da Índia e seus vizinhos, que deveriam ter tido uma visão privilegiada.

Da mesma forma, observadores ansiosos que se reuniram em penhascos e praias no condado inglês de Dorset foram deixados no escuro devido a um céu nublado.

"É decepcionante", disse Tish Adams, 67 anos, à AFP. "Eu tirei algumas fotos, mas não havia nada além de uma listra rosa no céu".

Corpos celestes se alinham

Marte apareceu extraordinariamente grande e brilhante, a apenas 57,7 milhões de quilômetros da Terra em sua órbita elíptica em torno do Sol.

"Temos uma rara e interessante conjunção de fenômenos", disse Pascal Descamps, astrônomo do Observatório de Paris, à AFP.

"Uma tonalidade vermelha acobreada na lua, com Marte, o 'Planeta Vermelho', logo ao lado, muito brilhante e com um leve tom alaranjado".

Um eclipse lunar total acontece quando a Terra se posiciona em uma linha reta entre a lua e o sol, tapando a luz solar direta que normalmente faz o nosso satélite brilhar com um amarelo esbranquiçado.

A lua viaja para uma posição similar a cada mês, mas a inclinação de sua órbita faz com que ela normalmente passe acima ou abaixo da sombra da Terra - então, na maioria dos meses, temos uma lua cheia sem um eclipse.

Quando os três corpos celestes estão perfeitamente alinhados, no entanto, a atmosfera da Terra dispersa a luz azul do sol, enquanto refrata ou curva a luz vermelha sobre a lua, geralmente dando-lhe um rubor rosado.

Isso é o que dá ao fenômeno o nome de "lua de sangue", embora Mark Bailey, do Observatório de Armagh, na Irlanda do Norte, afirme que a cor é variável.

Depende em parte de "quão nubladas ou transparentes estão aquelas partes da atmosfera da Terra que permitem que a luz do Sol chegue à Lua", disse à AFP.

"Durante um eclipse muito escuro a lua pode ficar quase invisível. Eclipses menos escuros podem mostrar a lua como cinza escuro ou marrom (...), como cor de ferrugem, vermelho-tijolo, ou, se muito brilhante, vermelho-cobre ou laranja", acrescentou.

A longa duração deste eclipse se deveu em parte ao fato de que a lua fez uma passagem quase central através da umbra da Terra - a parte mais escura e central da sombra.

A Lua também está no ponto mais distante de sua órbita da Terra, fazendo com que seu movimento pelo céu ficasse mais lento de nossa perspectiva, passando assim mais tempo no escuro.

Marte aparece como uma estrela muito brilhante.

"No meio de um eclipse lunar, parece que um planeta vermelho passou a residir perto da Terra - e eles são ambos misteriosos e belos", disse Robert Massey, da Royal Astronomical Society, em Londres.

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