Com gestão de resíduos mais eficiente, lixo urbano do país tem potencial para evitar a emissão de mais de 30 milhões de toneladas de CO2 (Peter Dazeley/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 22 de fevereiro de 2023 às 15h24.
Imagine uma montanha com 85,2 milhões de carros populares empilhados. Enfileirados eles dariam a volta no planeta 7,6 vezes. Esse é o volume de lixo que os brasileiros geraram no ano passado, segundo o último Panorama dos Resíduos Sólidos do Brasil, levantamento realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
Em 2022, produzimos 81,8 milhões de toneladas de resíduos nas áreas urbanas, o que representa 224 mil toneladas diárias. Cada pessoa gerou, em média, 381 kg por ano, o que significa mais de um quilo de lixo por dia.
Entre as regiões, a Sudeste foi a responsável por quase metade (49,7%) do lixo produzido no país em 2022, mais de 40,6 milhões de toneladas. Já o Centro-Oeste, com cerca de 6,1 milhões de toneladas ao ano, representou 7,5% do total e foi a região com menor geração de resíduos.
Embora expressivos, os números são levemente inferiores a 2021. Possivelmente, na análise da Abrelpe, a redução se deve às novas dinâmicas sociais, que incluem a retomada da geração de resíduos nas empresas e escolas, o trabalho híbrido e o menor uso dos serviços de delivery em comparação ao período de isolamento social, por exemplo.
Mais de 76,1 milhões de toneladas de lixo urbano foram coletadas no Brasil em 2022, o que representa uma cobertura de 93%. Assim, dos 381 kg de resíduos que cada brasileiro produziu no ano, em média, 354 foram recolhidos pelos serviços de coleta dos municípios.
O índice acima dos 90% é a média nacional, mas no recorte regional há diferenças consideráveis: enquanto as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste ultrapassam a média – o Sudeste, por exemplo, chega 98,6% –, Norte e Nordeste apresentam taxas abaixo de 83%, indicando que uma boa parcela da população não tem acesso à coleta regular.
Três em cada quatro municípios brasileiros (75%) apresentaram alguma iniciativa de coleta seletiva. Porém, a Abrelpe ressalta que, em muitos, essa atividade não chega a toda a população, podendo ser apenas ações pontuais. Na análise regional, as diferenças são relevantes: no Sul e no Sudeste, mais de 90% das cidades contam com projetos na área, enquanto que no Centro-Oeste pouco mais de 50% têm alguma iniciativa nesse sentido.
O relatório mostrou ainda que a maior parte dos resíduos sólidos urbanos no Brasil é encaminhada para aterros sanitários – no ano passado, 46,4 milhões de toneladas tiveram a destinação ambientalmente adequada.
No entanto, em todo o país, 39% do lixo coletado (quase 30 milhões de toneladas) foram destinados a áreas inadequadas, como lixões, que seguem operando em todas as regiões. No Norte e no Nordeste, cerca de 63% dos resíduos foram parar em locais como esses.
De acordo com o documento, ainda é significativo o déficit quanto à universalização dos serviços de limpeza urbana e ao manejo do lixo. E um dos pontos de maior gargalo é exatamente a sua destinação final.
Estimativas da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA) apontam que o custo com a gestão ineficiente de resíduos é de três a cinco vezes maior que a quantia necessária para custeio das soluções apropriadas.
O lixo depositado em locais inadequados tem impactos diretos na saúde da população do entorno, em um raio que pode chegar a 60 km. É fonte de poluição da água, do solo, da flora e fauna e também de emissões de gases de efeito estufa (GEE).
A projeção da Abrelpe é que o potencial de descarbonização na destinação final de resíduos sólidos urbanos, considerando o alcance das metas do Plano Nacional de Resíduos Sólidos para 2040, é de 30,1 milhões de toneladas de CO2 equivalente.
Também conhecido por Planares, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, instituído em 2022, traça um caminho para materializar a Política Nacional de Resíduos Sólidos, com diretrizes e estratégias para melhorar a gestão do setor no Brasil.
Entre as ações previstas, estão por exemplo o encerramento de todos os lixões e a recuperação de 50% do lixo em 20 anos, por meio de reciclagem, compostagem, biodigestão e recuperação energética.