Ciência

Isto é o que (ainda) resta de natureza intocada no mundo

Últimas áreas selvagens estão desaparecendo rapidamente, e a maior parte do que resta se concentra em apenas cinco países, mostra estudo publicado na Nature

Floresta e lago sem vestígios de atividades humanas.  (merc67/Getty Images)

Floresta e lago sem vestígios de atividades humanas. (merc67/Getty Images)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 5 de novembro de 2018 às 14h19.

Última atualização em 5 de novembro de 2018 às 14h20.

São Paulo - Bilhões de anos se passaram, incontáveis espécies surgiram e desapareceram, mas bastou apenas uma para colocar em risco toda a história evolutiva da Terra ao espalhar a destruição e degradação do meio ambiente.

Apesar dos esforços de conservação e proteção ambiental nas últimas décadas, menos de um terço das áreas terrestres do Planeta permanecem selvagens, sem impacto de atividades humanas, e esses remanescentes da natureza estão sob risco crescente.

O alerta vem de um artigo da Universidade de Queensland, na Austrália, e da organização não-governamental norte-americana Wildlife Conservation Society (WCS) publicado na semana passada na revista Nature. 

Entre 1993 e 2009, uma área florestada maior que a Índia  impressionantes 3,3 milhões de quilômetros quadrados  foi perdida para a expansão de cidades, agropecuária, mineração e outras pressões associadas a atividades humanas. No oceano, áreas livres de pesca industrial, poluição e navegação estão quase completamente confinadas às regiões polares.

Segundo o estudo, mais de 77% das terras (excluindo a Antártica) e 87% dos oceanos já foram modificados pela intervenção humana. E a maior parte dos remanescentes se concentram em apenas cinco nações: Austrália, Estados Unidos, Brasil, Rússia e Canadá. 

“As áreas selvagens são agora os únicos lugares que possuem combinações de espécies próximas da sua abundância natural” e, por isso, são espaços  únicos que “apoiam o processo ecológico” fundamental para “manter a biodiversidade numa escala evolutiva”, escreveram os pesquisadores na publicação.

O mapa abaixo mostra a distribuição dos ecossistemas marinhos e terrestres ainda intactos no mundo:

(Nature/Reprodução)

A pesquisa foi divulgada há poucas semanas da Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP/CDB), que acontece no Egito de 13 a 29 de novembro.

Tendo em vista a perda de biodiversidade sem precedentes, o encontro assumirá uma importância particular: as nações irão rever o atual Plano Estratégico para a Biodiversidade 2011-2020, a fim de definir uma visão a longo prazo e preparar um plano mundial para além de 2020 a fim de reverter a perda de ecossistemas e espécies.  

Os pesquisadores afirmam que as áreas selvagens remanescentes só podem ser protegidas “se forem reconhecidas dentro de estruturas de políticas internacionais” e demandam um esforço global para a criação de um acordo internacional que proteja 100% de todos os ecossistemas intactos remanescentes. Além disso, eles defendem que políticas globais se traduzam em ações locais.

“Uma intervenção óbvia que essas nações podem priorizar é o estabelecimento de áreas protegidas de forma a retardar os impactos das atividades humanas sobre a paisagem terrestres e marinha”, disse o principal autor do estudo, o professor James Watson, da Escola de Ciências Ambientais e da Terra, em comunicado da Universidade de Queensland.

O artigo na Nature foi divulgado na mesma semana em que a organização ambiental WWF revelou que as populações de animais do planeta diminuíram 60% desde 1970, sobretudo devido à ação humana.

A perda de biodiversidade, associada à degradação ambiental, é uma ameaça à civilização tão grande quanto as mudanças climáticas, segundo a Organização das Nações Unidas.

"O mundo deve lançar um novo acordo para a natureza nos próximos dois anos, ou a humanidade pode ser a primeira espécie a documentar a própria extinção", adverte a entidade

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