Israel: 9,2 milhões de pessoas receberam ao menos uma dose (Ammar Awad/Reuters)
Laura Pancini
Publicado em 9 de abril de 2021 às 10h55.
Última atualização em 9 de abril de 2021 às 11h56.
Um dos líderes na campanha de vacinação mundial contra o coronavírus, Israel conseguiu vacinar 56% da sua população com ao menos uma dose e outros 15% se encontram recuperados da doença, ou seja, no mínimo carregam anticorpos.
A média de 70% israelenses protegidos faz a teoria da imunidade de rebanho vir à tona novamente, mas ainda existem diversos fatores que podem impedir ela de se concretizar.
A imunidade de rebanho é um cálculo que estima que entre 65 e 70% da população de uma região precisa estar imunizada, seja por meio da vacina ou por anticorpos após contrair a doença, para que ninguém mais transmita o vírus.
"Agora, vemos um declínio no número de casos, apesar da retomada de reuniões em massa e de atividades escolares depois do terceiro lockdown. A maioria das pessoas que um infectado encontrará estão imunes. Em comparação com os dois últimos lockdowns, após os quais houve aumento de contaminações, testemunhamos, ainda assim, uma queda, mesmo após a flexibilização", explica Eyal Leshem, diretor do Instituto de Viagens e Medicina Tropical de Sheb.
Em Israel, 9,2 milhões de pessoas receberam ao menos uma dose do imunizante e 700 mil desenvolveram anticorpos após contrair a covid-19. Os números tranquilizam a população, mas não há garantia de que novos surtos do coronavírus não possam acontecer no futuro.
No momento, as fronteiras israelenses estão fechadas, mas, caso um dia abram, também ficam abertas as chances de novas mutações se desenvolverem na região, especialmente considerando que seus países vizinhos não estão avançando em suas campanhas de vacinação: Líbano, Jordânia e Egito ainda não vacinaram ou não alcançaram nem 2% da população imunizada. Não há dados sobre a Síria ou a Palestina.
O fator social no próprio país também é relevante. Já está sendo observado em Israel que, à medida que mais pessoas são vacinadas, elas aumentam suas interações e, consequentemente, sua exposição ao vírus. “A vacina não é à prova de balas”, diz Dvir Aran, um cientista de dados biomédicos do Instituto de Tecnologia de Israel. Imagine uma vacina com 90% de proteção: “Se antes da vacina você conheceu no máximo uma pessoa, e agora com as vacinas você conhece dez pessoas, você está de volta à estaca zero.”
O aspecto mais otimista para a imunidade de rebanho em Israel é a vacina da Pfizer com a BioNTech, que está sendo aplicada quase exclusivamente na população após um acordo entre o primeiro-ministro Netanyahu e a empresa farmacêutica. O país concordou em compartilhar dados nacionais sobre a vacina baseada em RNA mensageiro, ou mRNA, na tentativa de criar um estudo de eficácia em grande escala.
Por enquanto, se sabe que a vacina da Pfizer é 91% eficaz para evitar quadros graves de covid-19 em pacientes com quadros graves de infecção pelo novo coronavírus. A empresa também anunciou na última semana que o efeito protetor contra a doença dura no mínimo seis meses após a aplicação da segunda dose.
Eles estão avaliando a eficácia na medida que o tempo passa e, por enquanto, soa promissor, mas quem está imunizado ainda pode carregar o vírus de forma assintomática e transmitir para outras pessoas, outro fator preocupante e que pode desestabilizar a teoria da imunidade de rebanho.
"Pelo que sabemos, a vacina da Pfizer é bastante eficaz contra diferentes variantes na prevenção de doenças e de infecções, embora possa ser um pouco menos potente contra a sul-africana, ao menos no laboratório", avalia Leshem. "Não há truques mágicos aqui. Se pessoas não vacinadas viajarem sem quarentena e testes completos, aumentaremos o risco de reintroduzir a doença no país", finaliza.