Ciência

Insuficiência cardíaca: 30% dos casos de piora envolvem uso incorreto de remédios

Cerca de 50% dos pacientes com a síndrome não recebem orientações sobre o uso correto de sua medicação

A taxa de mortalidade identificada pela pesquisa foi de 12,6% (stevanovicigor/Thinkstock)

A taxa de mortalidade identificada pela pesquisa foi de 12,6% (stevanovicigor/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de setembro de 2022 às 19h34.

A interrupção no uso de um ou mais remédios prescritos para pacientes de insuficiência cardíaca está por trás de 30% dos casos de piora da síndrome, segundo estudo apresentado neste sábado, 27, em congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC), com dados de 51 hospitais públicos e privados de 21 cidades do Brasil.

Ainda de acordo com o trabalho, cerca de 50% dos pacientes com a síndrome não recebem orientações sobre o uso correto de sua medicação. Além de traçar um perfil dos pacientes de insuficiência, que são predominantemente idosos, outro destaque do levantamento é a alta mortalidade intra-hospitalar.

Além do abandono dos remédios, infecções foram responsáveis pelo agravamento do quadro em 23% dos casos, seguidas de arritmias cardíacas (12,5%) e aumento da ingestão de água e sódio (8,9%). A taxa de mortalidade identificada pela pesquisa foi de 12,6%, índice que supera o dobro do encontrado em registros americanos e europeus.

Segundo os responsáveis pelo levantamento, a adesão ao tratamento não pode ser considerada responsabilidade exclusiva do paciente.

"É necessário que ele receba instrução apropriada sobre uso correto das medicações e que seja orientado sobre como reconhecer piora dos sintomas e sobre consultas futuras. No entanto, só pouco mais de 50% dos pacientes recebem orientações sobre o uso das medicações e 44% sobre identificação de sintomas e consultas futuras", explica Alexandre Biasi, superintendente de Ensino e Pesquisa do Hospital do Coração (Hcor), que atuou na condução e gerenciamento de dados.

Ele também ressalta que há espaço para melhorar a assistência a pacientes internados com essa doença cardíaca: "Há a expectativa de que recursos como aplicativos que recebam dados do paciente (como peso e pressão arterial) e do uso de medicamentos e gerem recomendações de procura por atendimento médico possam melhorar a qualidade de vida e sobrevida de pacientes com insuficiência cardíaca". Segundo o superintendente, o Hcor tem participado de um estudo que avalia esse tipo de intervenção e sua eficácia.

A média de idade dos pacientes foi de 64 anos, com 73% acima dos 75 anos e 60% mulheres. As causas mais frequentes da diminuição das funções cardíacas foram doença nas artérias coronárias (30%) hipertensão arterial (20%), dilatação cardíaca (15%), doença das válvulas cardíacas (12%) e doença de Chagas (11%). O estudo envolveu um acompanhamento de pacientes entre 2011 e 2012.

Risco de morte

Segundo informações consideradas no estudo, a insuficiência cardíaca é uma das principais causas de internação hospitalar entre os sul-americanos. No ano de 2020, conforme dados do DataSUS, do Ministério da Saúde, a insuficiência cardíaca foi a causa de 27.775 óbitos em todo o País.

"O ônus se torna ainda mais significativo quando consideramos que quase 50% de todos os pacientes internados com este diagnóstico são readmitidos dentro de 90 dias após a alta hospitalar, e que essa readmissão hospitalar é um dos principais fatores de risco para morte nesta síndrome", diz o estudo.

LEIA TAMBÉM:

Primeira pessoa com coração de porco transplantado morreu de insuficiência cardíaca, dizem médicos

Anvisa revoga recolhimento do medicamento losartana

Acompanhe tudo sobre:DoençasRemédiosDoenças do coração

Mais de Ciência

SpaceX adia lançamento do Starship após problemas técnicos

Como identificar mentirosos? Cientista revela técnica 'infalível' para desmascarar os inimigos

Após 600 anos, peste negra voltou? O que se sabe sobre caso registrado da doença e possíveis riscos

'Jurassic Park' estava certo? Dinossauros de pescoço longo podiam se erguer sobre duas patas