Repórter
Publicado em 22 de maio de 2025 às 11h19.
Em um dos cantos mais remotos do sistema solar, uma pequena lua de Saturno chamada Encélado esconde mistérios que o Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) ajudará a desvendar. A missão coordenada pela Agência Espacial Europeia (ESA) e o centro aeroespacial alemão DLR terá o IMT como parceiro na criação de simuladores avançados, um “gêmeo digital” capaz de antecipar desafios e garantir soluções técnicas em um projeto que deve entregar os primeiros dados somente em 2050.
O convite para essa missão — prevista para lançamento em 2026 — reforça a trajetória do instituto brasileiro, que desde 2003 participa de missões internacionais como CoRoT e PLATO, ambas focadas em observação de exoplanetas. “Nossa especialidade é criar sistemas capazes de evoluir com o projeto, ajustando tecnologias diante da complexidade e do tempo longo das missões espaciais”, afirma Vanderlei Parro, professor de engenharia elétrica do IMT.
A lua de Saturno Encélado tem cerca de 500 km de diâmetro, mas abriga um oceano subterrâneo sob a superfície congelada. A missão usará a nave para coletar material expelido pelos gêiseres — jatos de vapor d’água e partículas orgânicas — que indicam a possibilidade de vida microbiana.
No âmbito da busca por exoplanetas, o IMT trabalha desde 2010 na missão PLATO da ESA, que pretende identificar planetas rochosos semelhantes à Terra. A instituição foi responsável pela criação dos simuladores das câmeras do satélite, usados para testar e calibrar subsistemas críticos, com previsão de lançamento em 2026.
O pioneirismo brasileiro no projeto CoRoT (2007-2012), liderado pela França, contou com participação do IMT na definição e análise das estrelas observadas, além do desenvolvimento de softwares para calibração dos dados.
No campo da formação e inovação tecnológica, o Instituto Mauá desenvolve projetos nacionais como o CubeSat, um satélite em miniatura que oferece aos alunos experiência prática em sistemas espaciais complexos. Também conduz o HAB-Mauá, um balão de alta altitude que carrega experimentos científicos e astrobiológicos à estratosfera.
Esses projetos educacionais complementam as parcerias estratégicas do IMT, incluindo o desenvolvimento de sistemas de controle orbital em cooperação com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), fortalecendo a cadeia tecnológica nacional.
Além de Encélado, o IMT é a única instituição brasileira a participar das missões Veritas e EnVision, ambas para Vênus. Veritas, da Nasa, programada para 2028, vai mapear a superfície do planeta com alta resolução para entender sua evolução divergente da Terra. Já a missão EnVision, coordenada pela ESA em parceria com a Nasa, vai estudar a atmosfera, superfície e interior de Vênus, com lançamento previsto para 2030.
A equipe do instituto, composta por professores, engenheiros e estudantes, desenvolve tecnologias que serão integradas a equipamentos embarcados nessas missões, consolidando a presença brasileira em projetos de ponta da exploração planetária. Um exemplo é a adaptação do simulador SimuCam para uso no conjunto VenSpec da EnVision, um pacote de espectrômetros ópticos.
“A participação nessas missões eleva o Brasil para a vanguarda da ciência planetária e astrobiologia, ao mesmo tempo em que prepara profissionais capazes de responder aos desafios tecnológicos do futuro”, diz Parro.