Ameaça: uso desmedido de agroquímicos é uma das razões para declínio. (Florian Gaertner/Getty Images)
Vanessa Barbosa
Publicado em 15 de fevereiro de 2019 às 15h25.
Última atualização em 15 de fevereiro de 2019 às 15h39.
São Paulo - Mais de 40% das espécies de insetos do mundo podem ser extintas nas próximas décadas, com consequências "catastróficas" para o meio ambiente e a manutenção da própria vida na Terra.
O alerta vem de um estudo publicado na revista Biological Conservation e que fez uma revisão de 73 pesquisas globais sobre o declínio de insetos.
A lista de populações mais afetadas é liderada por borboletas, abelhas, mariposas, vespas, formigas e besouros escaravelhos, insetos essenciais para o equilíbrio dos ecossistemas, preenchendo funções críticas como a predação e a polinização.
Há uma série de razões pelas quais esses animais estão em apuros. O estudo cita a perda de habitat devido à conversão de terra para a "agricultura intensiva", poluição agroquímica e mudança climática como as principais razões para o rápido declínio.
"As repercussões que isso terá para o meio ambiente do Planeta são, no mínimo, catastróficas, já que os insetos estão na base estrutural e funcional de muitos dos ecossistemas do mundo", diz um trecho do estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Sydney, Universidade de Queensland e a Academia Chinesa de Ciências Agrárias.
Há mais de um milhão de espécies de insetos no mundo, em comparação com pouco mais de 5 mil mamíferos, e essas espécies funcionam como pedras fundamentais dos ecossistemas terrestres.
Sem os insetos, tudo viria a baixo, o que os cientistas chamam de “cascata trófica de baixo para cima”, levando ao colapso da cadeia alimentar, que se espalharia pelos ecossistemas em uma espiral que atingiria desde predadores até plantas. Em outras palavras: não sobraria nada para sustentar a vida como a conhecemos.
Segundo o estudo, metade das espécies de mariposas e borboletas estudadas está em declínio, com um terço delas ameaçadas de extinção. Enquanto isso, quase metade das abelhas e formigas pesquisadas estão ameaçadas
O estudo recomenda várias mudanças para retardar ou interromper o declínio de insetos, incluindo uma drástica redução no uso de produtos químicos nos campos, como herbicidas, fungicidas e pesticidas, que quando aplicados atingem espécies não-alvo, e os neonicotinóides, que têm sido associados ao declínio mundial das abelhas.
Combater a mudança climática também é vital. Quase invisíveis no debate climático, os insetos são as criaturas que mais sofreriam perdas na sua distribuição no globo em um mundo mais quente. Um aumento de 3,2 graus Celsius no termômetro até o final do século poderia reduzir em 49% o alcance geográfico dos insetos, em 44% das plantas e 26% dos vertebrados, alerta um estudo publicado em 2018 na revista Science.
A vulnerabilidade dos insetos se soma à série de desventuras do processo que os cientistas caracterizam como a sexta extinção em massa na Terra.
Nos 500 milhões de anos de existência do Planeta, houve cinco extinções em massa, que levaram ao desaparecimento de 75% das espécies.
A mais famosa de todas, segundo a hipótese mais proeminente, ocorreu a 65 milhões de anos, com o impacto de um asteroide que teria destruído a vida por aqui.
Na sexta edição do cataclisma, porém, o algoz é o próprio ser humano e suas atividades nocivas ao meio ambiente.
Desde o alvorecer da civilização, a humanidade causou a perda de 83% de todos os mamíferos selvagens. Nos últimos 50 anos, as populações de todos os mamíferos selvagens, aves, répteis e peixes caíram em média 60%.
Nesse contexto, o declínio dos insetos é um golpe fatal no complexo elo de sustentação da vida. O alerta já está dado: se eles sumirem, vai todo mundo junto.