A pesquisa foi feita nos Estados Unidos e, portanto, leva em consideração o contexto de polarização política no país (GettyImages/Getty Images)
Laura Pancini
Publicado em 13 de novembro de 2021 às 11h00.
Ao analisar a saúde de alguém, médicos e pesquisadores levam em consideração dados como idade, gênero ou fatores socioeconômicos (educação, saúde, economia). E se além de tudo isso, eles também perguntassem a ideologia política?
Um novo estudo da Universidade de Kansas, nos Estados Unidos, traz evidências de que tal informação pode ser um "determinante social de saúde" tão importante quanto os exemplos acima, especialmente em crises de saúde pública como a que enfrentamos no momento.
É preciso ressaltar que a pesquisa foi feita nos Estados Unidos e, portanto, leva em consideração o contexto de polarização política no país que, no início de 2021, resultou em eventos como a invasão ao Capitólio por parte dos eleitores do ex-presidente Donald Trump.
Ao mesmo tempo, a ideia de que ideologias podem impactar as decisões sobre a própria saúde não é novidade. Pesquisas já foram feitas sobre a influência da política na opinião sobre fumar cigarros em público, por exemplo.
Mugur Geana, autor principal da pesquisa, afirma que o estudo não tem como intenção defender qualquer ideologia ou argumentar que uma está certa ou errada. De acordo com entrevista do pesquisador ao EurekAlert!, a pandemia do coronavírus trouxe uma oportunidade única para entender como a ideologia política pode influenciar no comportamento.
“O que este estudo mostra é que o partidarismo político e a ideologia parecem ser um dos impulsionadores mais significativos nas decisões sobre a saúde quando se trata da covid-19”, disse Geana.
Para o estudo, os autores realizaram duas pesquisas sobre ideologia e saúde e uma análise de outros artigos da área. Além de questões sobre crenças políticas, os entrevistados responderam perguntas que indicam o conhecimento sobre a covid-19, como vinham se comportando e outras informações demográficas.
Os entrevistados também responderam onde recebiam informações sobre a pandemia, se queriam se vacinar (o estudo foi feito entre outubro e novembro de 2020), se já haviam contraído a doença e se seguiam as recomendações como uso de máscaras e distanciamento social.
A análise dos dados de ambas as pesquisas sugeriu que a ideologia foi um preditor significativo para todas as variáveis comportamentais e, na maioria dos casos, a mais forte.
Por último, os autores revisaram 181 artigos sobre a covid-19 e analisaram os resultados de 44 estudos selecionados sobre ideologia nos comportamentos de saúde.
De 141 estimativas dos 44 estudos, a ideologia política foi um preditor significativo em 112 (79%) e mostrou o maior efeito nas medidas relacionadas a covid-19 em quase metade dessas estimativas (44%). Nenhuma outra variável foi o melhor preditor.
“Era óbvio que esperávamos ver diferenças em atitudes e comportamentos com base no partidarismo político, mas queríamos saber quanto impacto isso tem e se nossas descobertas refletem as de outros estudos”, disse Geana.
“Em tempos de crise, como é a pandemia, e em uma sociedade polarizada, a ideologia é um impulsionador significativo de como as pessoas se comportam quando falamos de saúde.”