Ciência

Idade paterna avançada pode afetar a saúde do bebê, diz estudo

Uma pesquisa indica que, no geral, a paternidade tardia pode ser associada a um risco maior de parto prematuro, baixo peso ao nascer e baixo índice de Apgar

No estudo publicado na British Medical Journal, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Stanford analisaram dados de mais de 40,5 milhões de nascidos vivos nos Estados Unidos entre 2007 e 2016 (Thinkstock/Thinkstock)

No estudo publicado na British Medical Journal, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Stanford analisaram dados de mais de 40,5 milhões de nascidos vivos nos Estados Unidos entre 2007 e 2016 (Thinkstock/Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 27 de março de 2019 às 12h18.

São Paulo — Estudos já demonstraram que a idade materna avançada pode comprometer a gestação ou mesmo a saúde do bebê. Isso ocorre devido ao envelhecimento dos óvulos, com os quais a mulher já nasce. Agora, cientistas fizeram uma associação entre paternidade tardia e ocorrências negativas para a prole e também para a mãe.

Ainda não é possível falar em causa e efeito, nem se sabe como essa interferência acontece, mas a relação é um alerta para homens e mulheres que decidem, cada vez mais, adiar o desejo de ter filhos.

No estudo publicado no periódico British Medical Journal, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Stanford analisaram dados de mais de 40,5 milhões de nascidos vivos nos Estados Unidos entre 2007 e 2016.

Com base nos documentos do Sistema Nacional de Estatísticas Vitais, os pesquisadores analisaram os seguintes fatores em bebês: idade gestacional, peso ao nascer, índice de Apgar, internação em unidade de terapia intensiva neonatal e convulsões. Nas mães dessas crianças, foram consideradas diabete gestacional e pré-eclâmpsia.

Os resultados indicaram que, no geral, a paternidade tardia foi associada a um risco maior de parto prematuro, baixo peso ao nascer e baixo índice de Apgar. Este último é uma escala que avalia cinco sinais do recém-nascido: frequência cardíaca, esforço respiratório, tônus muscular, irritabilidade reflexa e cor.

Ao equilibrar a idade das mães, observou-se que pais com 45 anos ou mais estavam relacionados a chances 14% maiores de parto prematuro e 18% maiores de convulsões em comparação com bebês de pais entre 25 e 34 anos.

"O que se entende é que, apesar de produzir espermatozoides a vida toda, o que daria ao homem sempre ter células novas, existe uma reprodução celular muito intensa e, quanto mais o tempo passa, mais essas células começam a se dividir de forma errada", explica Maria Cecília Erthal, especialista em reprodução humana do Vida - Centro de Fertilidade.

Além da multiplicação intensa, ela afirma que, com o avanço da idade, os tecidos dos testículos, onde os espermatozoides ficam armazenados, ficam envelhecidos e a vascularização diminui. Com isso, o fornecimento de nutrientes e oxigênio para os gametas ficam comprometidos - o que leva à danificação do processo de divisão celular.

A especialista reforça que ainda não está bem esclarecido como essa relação ocorre, uma vez que o bebê tem carga genética da mãe e do pai. Mas uma das hipóteses seria essa multiplicação celular intensa que pode causar erros genéticos.

Além do risco à saúde da prole, o estudo apontou também que a chance de diabete gestacional foi 34% maior nas mães com os parceiros mais velhos. Maria Cecília diz que o ambiente onde a gestação ocorre proporciona uma troca entre mulher e feto. Assim, algum defeito genético na célula fetal pode passar para o organismo materno e desencadear algum problema.

O estudo da Universidade de Stanford cita que as pesquisas sobre o impacto dos pais mais velhos na saúde da prole têm se limitado, principalmente, ao risco de doenças congênitas. A especialista do centro de fertilidade exemplifica com síndrome de Down e doenças psiquiátricas, como esquizofrenia e autismo. Neste último caso, ela afirma que a relação ainda não está totalmente elucidada, mas há estudos avançados.

Quanto à relação com a saúde do bebê, a especialista diz que médicos começam a observar isso clinicamente. A partir disso, partem para a pesquisa científica a fim de comprovar ou não a associação. "Começou-se a vincular esses fatos, mas não se esclareceu totalmente".

Diferente do homem que produz espermatozoides constantemente, a mulher já nasce com uma reserva ovariana, que vai diminuindo com o passar dos anos. Por isso, conforme ela passa dos 30 ou 35 anos, há, eventualmente, mais dificuldade para engravidar ou algum risco na gestação.

"Mulher com mais idade tem mais chance de ter doenças pelo envelhecimento, como na tireoide, problemas cardíacos, doenças que podem complicar a gravidez e levar à comorbidade do bebê ou prematuridade", afirma Maria Cecília.

Há ainda influência na saúde do bebê caso haja alguma alteração cromossômica devido ao envelhecimento do óvulo. Aqui, as divisões cromossômicas também podem ocorrer de forma errada.

A especialista faz um alerta para homens e mulheres que estão postergando a maternidade ou paternidade: "Eles precisam ter consciência de que isso aumenta as chances de algum problema, seja dificuldade para engravidar, aborto ou bebês nascendo com alguma doença. É preciso conversar com médicos e fazer planejamento familiar", diz. Uma opção é preservar a fertilidade por meio do congelamento de óvulos e espermatozoides.

Ludimila Honorato

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